quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Crack, epidemia nacional


O crack constitui uma epidemia nacional, com graves consequências para a população. O consumo desta droga atinge centros urbanos e zonas rurais, com mais de 1 milhão e duzentos mil dependentes. Entre 2001 e 2005, o número de usuários de crack aumentou 125%; no mesmo período os consumidores de cocaína cresceram 42%.
Especialistas estimam que nos próximos anos 300 mil pessoas, sobretudo jovens, morrerão em decorrência do consumo de crack. Se não houver investimento maciço do poder público, não será possível conter o avanço do crack, que só entrou no mercado por volta dos anos 80.
A matéria prima do crack é a cocaína. 70% das 18.852 toneladas de cocaína apreendidas pela polícia em 2009 destinavam-se à produção de crack.
O crack se dissemina rápido por ser a droga mais barata da praça e com lucratividade maior que a da cocaína. Sua liquidez é ímpar, isto é, não fica encalhado. O ímpeto dos consumidores é inesgotável. A clientela do crack é muito mais ampla do que a de qualquer outra droga. Envolve as classes C, D e E, as mais humildes, mas também as mais numerosas.
O “craqueiro”, ou “noia”, como é mais conhecido, desenvolve uma psicose. Fica totalmente possuído pelo efeito da droga. O crack é a forma mais destrutiva de droga. Os “craqueiros” criaram até normas de sobrevivência, como “não usar crack em grupo”, “não enfrentar a polícia”, “pagar em dia o traficante”, “usar serviços públicos para controlar as infecções”, etc. Mas se um “noia” morre, ninguém nota. A droga destrói sua identidade humana.
Levantamento feito mostra que 98% dos municípios do país enfrentam problemas relacionados ao crack. Paulo Ziulkoski, presidente da Confederação Nacional de Municípios, avalia que “o problema alcançou uma dimensão nacional. Não está mais só nas grandes cidades, mas também nas zonas rurais”. Segundo Paulina Duarte, da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), “se fizermos um estudo epidemiológico não vamos encontrar nenhum município sem casos, com lugares de consumo maior ou menor”.
Para enfrentar essa realidade, foi criado o Plano Integrado de Enfrentamento do Crack e Outras Drogas, lançado em maio de 2010 pelo governo federal, mas que não teve andamento. Até agora, apenas 3,39% das cidades brasileiras fizeram convênio com o governo federal para conseguir recursos para combater o crack. A maior parte dos municípios com plano contra o crack utiliza recursos próprios. Só 374 oferecem algum tipo de tratamento aos dependentes de drogas. Pior: 90% não têm programa de tratamento e apenas 181 contam com alguma atividade de reinserção social dos dependentes.
No entender da psiquiatra Ana Raquel Santiago de Lima, “não há uma pílula que resolva o problema das drogas”. Portanto, o crack não acabará tão já.

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