terça-feira, 29 de junho de 2010

MENTE-CÉREBRO

por Pe. Eduardo Delazeri
editor

Um elefante gozava as delícias de um banho num poço fresquinho da sua floresta, quando um rato chegou e exigiu que o elefante saísse.

“Não saio não”, disse o elefante, “não me perturbe enquanto me divirto!”

“Pois insisto em que saias”, disse o rato. “Sair por quê?” perguntou o elefante. “Somente te direi, quando saíres e deixares o poço”, disse o rato. “Pois eu não saio”, disse o elefante. Mas de fato saiu, pesadamente, do seu poço, postou-se ante o ratinho e perguntou? “Mas por que desejava que eu saísse?” “Só queria saber, disse o ratinho, se estás usando o meu calção de banho.”

Pois é mais fácil entrar um elefante dentro do calçãozinho de um rato do que entender o mistério de nossa mente-cérebro e nossos cinco sentidos.

O Mestre ensina que nada existe no intelecto que não venha dos cinco sentidos. Desejamos mostrar como a mente-cérebro, através dos cinco sentidos, funciona no ser humano; leva-o à sobriedade e a uma vivência social saudável.

É um trabalho de arte. Requer um sentido aguçado, como Mozart que possui uma perfeita sensibilidade quanto os sons. Apreciemos como nossos órgãos e tecidos mostram o segredo de nosso espírito. Todos os membros de nosso espírito-corpo (psicossomático) funcionam definindo nossa personalidade. Tais idéias promovem um entendimento, não só de nosso ser, mas também em relação à própria vida.

A mente-cérebro mostra mesmo o que nós somos. Sabemos que ouvimos com os ouvidos, saboreamos com a língua, sentimos com os dedos. Estes órgãos apenas captam informações e encaminham os fatos ao encéfalo. A mente-cérebro acusa quando estamos doentes, quando temos fome, sede e quando sentimos várias emoções. É como uma central telefônica, que recebe e emite uma avalanche de mensagens. O cérebro escolhe o que é importante para ele e ignora o restante. A mente-cérebro cuida de nossa respiração; mostra quanto oxigênio precisamos e para onde enviá-lo. Pode bloquear substâncias tóxicas, porém, infelizmente, não é capaz de impedir a entrada do álcool e de substâncias psicoativas que nós ingerimos. Cada um de nossos 60 bilhões de neurônios pode mandar mensagens simultaneamente 60 mil vezes. Ajuda nossa memória e controla nossa fala. A capacidade de nosso cérebro, até a atualidade, é pouco usada. Sua pontecialidade é infinita.

Daqui há alguns milhares de anos, pensaremos que o homem atual era como um homem das cavernas é hoje para nós. Estudando e meditando, aprendemos a aproveitar o poder sem limite de nossa mente-cérebro.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

CRACK NEM PENSAR

por Leandro Gubert
colaborador

O Crack é hoje uma das piores epidemias que já apareceram no Rio Grande do Sul (RS) e no Brasil, devido ao fato desta droga ter se espalhado de tal maneira que atingiu também a classe alta da sociedade, não se restringindo apenas as grandes periferias.
O Crack é uma droga voraz, acaba com seu usuário em poucos meses, fazendo-o perder todos seus valores e princípios, acaba com o sistema nervoso, ataca os pulmões, e todos os demais órgãos vitais do usuário. Faz com que seu consumidor busque cada vez mais alternativas de consegui-la.
A RBS TV lançou uma campanha em todo estado do RS para a prevenção de seu uso, mostrando o estrago que ela causa ao usuário e também na sua família, pois o mesmo é capaz de trocar tudo pela droga, mostrando também que o consumo dessa droga é um caminho sem volta, pois muitas vezes o usuário não consegue sair dela. Muitos são vitimas de traficantes, outros contraem graves problemas de saúde, um caminho que só leva a morte.
Na minha opinião, tem volta sim, pois depende apenas do usuário tomar a iniciativa de pedir ajuda e decidir realmente sair do uso dela, com a ajuda correta, o usuário ou dependente químico, aprende uma nova maneira de viver, redescobrindo valores interiores, fazendo com que se sinta maior que seu vício, e essa vida após a droga muitas vezes, ou sempre, é melhor.

COMUNIDADES TERAPÊUTICAS

por Leandro Gubert
colaborador

Hoje no Rio Grande do Sul segundo estatísticas do CNEN – RS existem cerca de 280 comunidades terapêuticas (C.T.s), onde pessoas com a síndrome da dependência química, buscam recuperação do uso e abuso de substâncias psicoativas. A Comunidade Terapêutica é um lugar de esperança para muitas pessoas que perderam tudo devido a dependência, lugar onde esperam mudar suas vidas e recuperar sua dignidade.
O tratamento oferecido em muitas comunidades é baseado na mudança de caracter, onde os residentes aprendem a valorizar as pequenas coisas, mudando seu comportamento para com as pessoas e sociedade, aprendem que seus defeitos de caracter enraizados em seu interior, muitas vezes desde sua infância, são seus piores inimigos, lugar onde reuniões diárias, trabalho, oração e principalmente a disciplina fazem parte de um processo terapêutico, onde a rotina de seus longos meses de tratamento exigem um enorme esforço para um real e significativa mudança de valores.
Mas muitas vezes, quase que imparcialmente, as ‘’C.T.s’’ parecem mais com depósitos de dependentes químicos, onde o real e significativo processo terapêutico não é aplicado, onde disciplina torna-se quase que cruel, com as pessoas que buscam uma nova maneira de ver a vida. Saem do tratamento mais revoltados que antes devido as humilhações sofridas, trabalho excessivo na maioria dos casos, quando o dependente deveria ‘’se’’ trabalhar. Infelizmente, o lugar onde os dependentes químicos buscam esperança e novos valores, tornam-se um lugar não muito diferente de seus lares.
Penso que deve haver um novo modelo terapêutico, onde a busca do “novo homem” deve começar através do respeito mútuo, do exemplo de vida, vindos das pessoas designadas a esta tarefa de lidar com vidas.

terça-feira, 22 de junho de 2010

A ROSA

A santidade deve ser sempre despretensiosa. Cito uma poesia: “A rosa floresce porque sua natureza é florescer, sem perguntar por que floresce. Não se enfeita nem se ajeita para atrair o olhar...”.

Paulo tem escrito “a fé é do coração”. Os lábios expressam essa fé no louvor, dizendo que Jesus Cristo é o Senhor (Rm 10,9). Cristo disse que seu amor sai do nosso interior como rios de água viva (Jô 7,37) e nos conduzem a servir aos homens com justiça social.

Observamos e aprendemos como Deus trabalha e habita dentro de todas as coisas. Percebemos a sua amável presença sabendo que Deus é Amor. Desejamos ficar imersos no seu Amor infinito.

Aproveitamos das potencialidades humanas, colocando-as a serviço do Criador; não somente louvando e reverenciando a Divina Majestade, mas servindo amplamente nosso irmão. O homem freqüentemente procura o caminho mais fácil, não se preocupando o suficiente com os irmãos. É mais fácil louvar a Deus do que servir ao próximo.

Sabe por que o pássaro canta?... Um pássaro não canta porque tem algo a dizer. Ele canta porque traz uma melodia na garganta. As palavras do cientista são para serem compreendidas. As palavras do Mestre não são necessariamente para serem compreendidas. Elas são para serem ouvidas com atenção meditativa, do mesmo modo como alguém escuta o vento nas árvores, o marulhar de um riacho e o canto de pássaro. Despertam dentro do coração algo que sobre passa qualquer conhecimento.

Nós louvamos e admiramos outras religiões: Buda ensinou que o desejo é a raiz de todo mal. Inácio de Loyola chama isto de apego. Maomé diz que existe apenas um só Deus e que devemos adorá-lo. Os Islamitas adoram Deus cinco vezes, diariamente. Os Judeus, com Isaias e outros profetas, louvam e servem a Divina Majestade. Os Hindus com Mahatma Ghandi servem três deuses: Brahma, o Criador; Shiva, o Continuador e Vishnu, o Equilibrador.

Basicamente as religiões têm a mesma tese: amar, louvar e reverenciar a Divina Majestade e servir aos irmãos. Quem oferece uma mão a Deus e não dá a outra a seu irmão, tem uma fé em vão.

terça-feira, 15 de junho de 2010

INDIFERENÇA

Um casal voltava dos funerais de Tio Jorge, que vivera com eles durante vinte anos e fora tão inconveniente que quase conseguiu arruinar o casamento deles.

“-Há algo que tenho de lhe dizer, querida.” Disse o homem. “ –Se não fosse meu amor por você, eu não teria aguentado seu Tio Jorge um só dia.”

“-Meu Tio Jorge? Ela exclamou horrorizada. “-Eu pensava que ele era seu Tio Jorge!”

Entre as criaturas que nos cercam, há umas pelas quais sentimos afeição e que nos apartam do fim último, por exemplo quebrar os dez mandamentos. Há outras pelas quais sentimos aversão e que nos conduzem ao fim último, como aceitar com alegria a cruz. E há outras das quais não temos certeza se nos conduzem ou não ao fim último, como a glória, o dinheiro e a fama.

Indiferença, etimologicamente, significa falta de diferença no uso das criaturas que, por si mesmas, podem conduzir ou não ao fim. Chama-se também desapego. Se nos perguntassem o que mais convém à nossa salvação, saúde ou enfermidade, honra ou desonra, riqueza ou pobreza, se quiséssemos dar uma resposta sensata, diríamos:“-Não sei, Deus sabe.” Se, portanto, as criaturas são indiferentes, a disposição de nosso espírito com relação a elas tem que ser também de desapego, como o médico e o pintor, que se mostram indiferentes com respeito ao uso dos medicamentos e das cores que não tem relação direta com o fim desejado da pintura ou da saúde.

Podemos distinguir duas espécies de desapego: indiferença da vontade e indiferença da sensibilidade. A primeira é a disposição da vontade de não se inclinar ao uso das criaturas senão na medida em que conduzem a nossa alegria e salvação. A indiferença à sensibilidade é a expulsão de todo afeto sensível contrária à vontade Divina.

O desapego é a pedra angular da espiritualidade. Sem esta base, é como ter uma construção que não tem um alicerce. A indiferença e o desapego são os princípios e fundamentos de toda a espiritualidade.

Um suplicante perguntou ao Padre João se a Bíblia era um bom livro para se ler. Ele respondeu: “-É melhor perguntar a si mesmo se está em posição de beneficiar-se com a leitura dela.”

Só porque, assoprando no termômetro, fê-lo indicar uma temperatura mais alta, você não aqueceu a sala.

O GRANDE PRÊMIO

Conta-se que Cleópatra foi, certa vez, ao mar pescar com Marco Antônio. A rainha, logo que lançou o anzol, apanhou muitos peixes, que ia recolhendo com grande festa. O imperador, pelo contrário, estava todo confuso, porque não lhe acontecia o mesmo. A rainha, para consolá-lo, disse-lhe com graça: Nasceste para pescar reis e reinos. Também o homem nasceu para pescar reis e reinos, isto é, para possuir, com a visão beatífica, o Rei dos reis, e conquistar, com seus esforços, o Reino da glória.

Ao contemplar a grandeza da glória, que a salvação nos proporciona, desejaríamos já mergulhar nesse mar de felicidade. Os grandes prêmios, porém, não se alcança sem grandes trabalhos, como nos admoesta São Paulo: “O atleta só recebe a coroa se lutou conforme as regras” (2Tm 2,5). Sobretudo, devemos tomar as seguintes resoluções:

Tendo sido criados para gozar de Deus por toda a eternidade, devemo-nos encher de entusiasmo, e não ocupar nossos afetos só em objetos terrenos com desejos de prazeres mundanos.

Em todas as obras, devemos procurar agradar a Deus e fazer tudo por sua glória à maneira do girassol, que segue o Sol desde que nasce até o momento em que se põe, ou como a agulha da bússola que aponta sempre para o pólo norte. Isso não quer dizer que descuidemos dos outros negócios humanos. Assim como o timoneiro, mesmo em pleno mar, não perde o rumo de seu caminho, também nós, em todas as ações, mesmo as menores, devemos ter sempre o objetivo de agradar a Deus e fazer todas as suas vontades, segundo o conselho do Apóstolo: “Portanto, quer comais, quer bebais,o que quer que façais, fazei tudo para a glória de Deus” (1Cor 10,31).

Não nos deixemos enganar com os bens desta terra, semelhantes ao corvo que Noé soltou da Arca, o qual não voltou como a pomba, mas ocupou-se em devorar os cadáveres que boiavam à tona da água.

Certo dia, um viajante estava caminhando pela estrada, quando um homem a cavalo passou depressa por ele. Tinha uma expressão malvada nos olhos e sangue nas mãos. Um pouco mais tarde, um grupo de cavaleiros aproximou-se querendo saber se o viajante tinha visto passar alguém com sangue nas mãos. Tinham muita pressa de alcançá-lo. “-Quem é ele?” perguntou o viajante. “-Um malfeitor.” disse o chefe do grupo. “-E vocês estão atrás dele, a fim de entregá-lo à justiça?” “-Não” respondeu o líder. “-Estamos atrás dele a fim de ensinar-lhe o caminho.”

Vamos usar bem e gozar das criaturas deste mundo enquanto nos levam ao Criador.

sábado, 12 de junho de 2010

LOUVOR A DEUS

Dizem que quando Deus criou o mundo e achou que “tudo era bom”, um anjo partilhou seu entusiasmo, mas à sua maneira, pois enquanto contemplava maravilha após maravilha, ia exclamando?

“-Como é bom! Vamos organizá-lo!”

E Deus respondeu: “E tirar todo o prazer dele!”

Já tentou organizar algo como a paz? No momento em que o faz há conflitos de poder e guerras de grupos dentro da organização. O único caminho para se obter a paz é deixá-la crescer ao acaso.

O sol, a lua, as estrelas, o leão, a baleia, as árvores e as flores põem-nos continuamente diante dos olhos das infinitas perfeições de Deus, principalmente seu poder, sua bondade e sua sabedoria. A ordem do mundo revela-nos a sabedoria divina; o oceano exalta a imensidade de Deus; os campos repletos de flores e as árvores carregadas de frutos falam-nos de sua bondade e sua generosidade infinita.

As criaturas não podem ter o mesmo principio que os homens têm. São para o homem, para ajudá-lo a conseguir sua finalidade.

As criaturas privadas de razão não podem, por si mesmas, glorificar a Deus; são criaturas para servir o homem. Depois que Deus levantou os montes, nivelou os vale, formou os céus, prodigalizou a vida , depois que acabou o palácio para o homem morar, disse: “Façamos o homem à nossa imagem, Segundo a nossa semelhança, e que ele submeta os peixes do mar, os pássaros do céu, os animais grandes, toda a terra e todos os animais que rastejam sobre a terra”(Gn 1,26). Nós somos para Deus, e as criaturas para nós, para nos ajudarem a servir à Deus.

As criaturas foram criadas por Deus para ajudar o homem a conseguir o seu fim, que é louva-Lo, reverencia-Lo e servi-Lo.

Ajudam-nos a louvar a Deus, segundo o que se lê na Escritura: “Os céus narram a Gloria de Deus, e o firmamento proclama a obra de suas mãos” (Sl 19 [18], 2).

Ajudam-nos a reverenciar a Deus, que está presente em todas elas nas racionais, por sua imagem e sua sanidade; nas irracionais, por sua atividade em conservá-las no ser. Umas nos fazem tremer diante de sua presença, como as tempestades do ar, da terra e dos mares, e outras nos fazem ajoelhar perante sua infinita majestade, que se nos revela nessas manifestações de poder.

Havia, certa vez, uma mulher que era religiosa, devota e cheia de amor a Deus. Toda manhã ela ia à igreja. E no caminho crianças a chamavam, mendigos a abordavam, mas ela estava tão imersa em suas devoções que nem ao menos os notava.

Ora, um dia, foi pela rua do modo costumeiro e chegou à igreja em cima da hora do culto. Empurrou a porta, mas não conseguiu abrí-la. Empurrou com mais força e percebeu que a porta estava trancada. E lá, bem à sua frente, achou um bilhete pregado à porta que dizia: “-Estou lá fora!”

O impacto das drogas na sociedade brasileira – busca de soluções

Ao longo dos últimos anos o Brasil sofreu um grande aumento do consumo de drogas. Infelizmente não houve uma mudança correspondente no vigor das políticas públicas que pudesse minimamente atenuar o impacto desse fenômeno na saúde pública. O objetivo desse documento é fazer um diagnóstico dessa situação e propor as melhores alternativas para o próximo governo.

Qual é a dimensão do problema das drogas no Brasil ?

1. Álcool



O álcool é o responsável pelo maior problema das drogas no Brasil. A própria Organização Mundial da Saúde já apontou que nosso país, e na maioria dos países da América Latina, o consumo de bebidas alcoólicas é responsável por cerca de 8% de todas as doenças existentes. Esse custo social é 100% maior do que os países desenvolvidos como EUA, Canadá, e da maioria dos países europeus.

No primeiro estudo brasileiro, feito pela UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo) em 2006, que avaliou o padrão de consumo do álcool na população, mostrou que 11% dos homens e 4% das mulheres adultas eram dependentes do álcool. Essa alta prevalência tem um impacto enorme na sociedade brasileira, pois podemos dizer que cerca de 1 em cada 7 famílias tem alguém com problemas significativos em relação ao álcool. O impacto nas crianças também é grande, pois 1 em cada 5 crianças já presenciou violência por alguém intoxicado pelo álcool em casa.

O álcool contribui especialmente para o aumento da violência no Brasil. Na violência entre casais o álcool está presente em mais de 45% dos casos. Cerca de 50.000 mortes ocorrem no trânsito todos os anos no Brasil e pelo menos metade dessas mortes são devidos ao consumo de álcool. Mesmo com a introdução da chamada “lei seca” que alterou para zero a concentração de álcool permitida para dirigir, convivemos com 25% dos motoristas alcoolizados dirigindo nos finais de semana. Nenhum outro país desenvolvido ou em desenvolvimento apresenta números como os brasileiros. Somos muito atípicos no cenário internacional ao tolerarmos esse nível de pessoas intoxicadas dirigindo veículos.

Entre os adolescentes o álcool é a principal droga de abuso, com 1 em cada 7 adolescentes (16%) tendo episódios regulares de excesso de consumo. O padrão de consumo dos adolescentes brasileiros é de ingerir grandes quantidades em episódios nos finais de semana, expondo-os a uma série de riscos como: acidentes, gravidez não planejada, e também risco de consumir outras drogas ilícitas. Apesar de termos o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) que proíbe a venda de bebidas para esse grupo, essa lei não é fiscalizada e está tornando o álcool a principal droga de entrada para um grupo substancial de jovens. Vale a pena destacar que embora o álcool seja uma droga lícita o uso pelos adolescentes é uma forma de uso ilícito de uma droga lícita.

Consenso Internacional sobre a Política do Álcool: No mês de maio de 2010 a Organização Mundial da Saúde passou uma resolução, apoiada pela grande maioria dos países, que busca a criação de uma política mundial sobre o álcool. À semelhança do que ocorreu com o cigarro a OMS criará as bases para implementar políticas baseadas em evidências em cada país. Essas políticas são: progressivamente aumentar o preço das bebidas alcoólicas, diminuir a disponibilidade social do álcool, proteger as crianças e os adolescentes da venda ilícita de bebidas, restringir a propaganda do álcool, reduzir o número de motoristas alcoolizados.

2. Maconha



A maconha é a principal droga ilícita utilizada no Brasil, com cerca de 10% dos adolescentes fazendo uso regular. Apesar do aumento regular do consumo dessa droga, fruto de uma percepção cada vez maior de que seja uma droga sem nenhum problema para a saúde, as evidências científicas cada vez mais apontam para uma série de problemas, como perda do rendimento acadêmico, acidentes de carro e aumento de uma série de doenças psiquiátricas como psicose e depressão. Estima-se que 1 milhão de usuários de maconha façam uso diário dessa substância, que são os dependentes.

Consenso Internacional sobre a Política da Maconha: Infelizmente pouco consenso existe sobre o que se deve fazer em relação à maconha. A maioria dos países está tentando buscar alternativas, mas até agora o consumo tende a aumentar universalmente. Com uma política mais liberal no Brasil estamos assistindo a um aumento de consumo maior do que a maioria dos países. Vários setores defendem ainda uma maior liberação em relação a essa droga, apesar dessa tendência de que cada vez mais jovens estejam consumindo maconha. Parece que estamos adotando uma política cada vez mais liberal, mesmo com resultados cada vez mais preucupantes. No mínimo o governo federal deveria ter uma posição mais clara sobre os riscos do consumo de maconha. Ao termos ministros de estado abertamente defendendo a legalização da maconha e até mesmo insinuando a defesa do uso torna o consumo dessa droga mais aceitável e a percepção dos riscos do seu uso mais leve.


3. Cocaína/Crack



O Brasil ficou livre da cocaína até meados dos anos 80, quando o preço de um grama dessa drogas estava ao redor de U$ 100, e a distribuição era somente para uma elite nas grandes cidades. Nesses últimos 30 anos a situação mudou dramaticamente. A partir dos anos 80 tivemos uma explosão do consumo de cocaína na forma em pó, fruto de uma dramática queda do preço, com um grama custando menos de U$ 2, e uma expansão enorme da rede de distribuição.

A partir de meados dos anos 90 o crack surgiu na cidade de São Paulo, de uma forma lenta, mas estável, expandiu-se para o interior do estado e mais recentemente nos últimos 10 anos expandiu-se para todo o país. O crack nada mais é do que a cocaína que pode ser fumada, tornando-a muito mais poderosa na criação de dependência e de uma série de problemas, em especial a violência. Todas as cidades onde o crack apareceu relatam um aumento de vários tipos de crimes. A primeira vítima da violência relacionada ao crack é a própria família do usuário. Pois é muito comum que comecem a roubar objetos diversos de suas próprias casas, como aparelhos de som, televisões, botijões de gás, etc para venderem e sustentarem o consumo. Esgotada essa fonte partem para crimes aquisitivos como roubo de carros, assaltos, etc.

Cerca de 1% da população brasileira faz algum consumo de cocaína, e aparentemente metade desse consumo é na forma de crack. As estimativas do próprio Ministério da Saúde de que temos 600 mil usuários de crack no Brasil é uma boa aproximação da realidade. O grande problema dos usuários do crack é que o volume de problemas de saúde, familiares e sociais que desenvolvem em paralelo ao consumo é muito grande. Essa é uma droga cuja dependência é muito grave e dificilmente o usuário consegue interromper o uso sem uma rede de tratamento muito bem organizada.

Estudo da UNIFESP que acompanha há 15 anos os primeiros 131 usuários de crack identificados no começo dos anos 90 na cidade de São Paulo, mostrou que cerca de 30% deles morreram nos primeiros cinco anos. A maior parte das mortes foi por homicídio. Esse estudo mostrou também as grandes dificuldades que os familiares tiveram em achar algum tipo de tratamento para os usuários. Se esse estudo puder servir para avaliar o que acontece no Brasil como um tudo, teremos a morte de pelo menos 180 mil usuários de crack nos próximos anos.

Consenso Internacional sobre a Política da Cocaína/Crack: As Nações Unidas num relatório recente mostrou que o Brasil é um dos poucos países no mundo onde o consumo de cocaína e crack está aumentando. A explicação deve ser por razões regionais. Nesse sentido a maior produção de cocaína por países como a Bolívia deve fazer parte da maior oferta e distribuição da cocaína e do crack em praticamente todos os estados do Brasil. Como não somos um país produtor de cocaína, estamos sujeitos a essas forças externas do tráfico internacional. Portanto deveríamos adotar políticas vigorosas para diminuir o fluxo de cocaína no Brasil. Já foi apontado também que toda essa cocaína não seria produzida se não houvesse uma rede sofisticada de produtos químicos para ajudar nesse processo. O único país da região com condições de fornecer esses produtos é o Brasil. Portanto esforços vigorosos deveriam ser feitos para identificar as empresas que estão fornecendo esses produtos e fecharmos esse fluxo de exportação clandestina.

No entanto temos mais de 600.000 usuários de crack em atividade, e para essa população vamos precisar de uma rede de tratamento mais organizada e que possa fazer uma diferença na evolução dessa doença. Devemos ter o compromisso de oferecer o tratamento necessário para essa população, pois o consumo de crack tem uma mortalidade maior do que a maioria das doenças cancerígenas.

Qual são as opções de prevenção ao problema das drogas no Brasil ?

Praticamente não temos programas de prevenção às drogas no Brasil financiado pelo governo federal. O que existe é uma série de iniciativas, a maioria por indivíduos ou algumas organizações, que tentam vários de tipos de ações, mas sem nenhuma direção clara e sem evidência de que aquilo que é feito tenha um impacto na diminuição do consumo. O que precisamos é de um modelo mais definido de prevenção, recursos para o tamanho da tarefa, e um sistema de avaliação sistemático para monitorar esse comportamento nas nossas crianças.

Por exemplo, os EUA anualmente fazem vários levantamentos em escolas e nas comunidades para monitorar o uso de substâncias pelas crianças americanas. Um dos estudos inclusive chama-se “Monitorar o Futuro” e tem como objetivo claro avaliar quais as políticas preventivas que estão funcionando. Vale a pena ressaltar que o consumo de várias drogas está diminuindo nos EUA. Vários fatores contribuíram para o sucesso parcial da estratégia americana: escolher a criança e o adolescente como o foco da prevenção, estratégias universais onde toda criança americana deveria receber um mínimo de informações sobre as drogas e o financiamento de centenas de projetos comunitários que são mais específicos e adaptados para um tipo de população.

Portanto o que devemos fazer no Brasil é algo parecido:

1 – Prevenção Universal: Deveríamos ter como objetivo que as informações sobre os diferentes tipos de drogas façam parte do currículo de todas as escolas públicas e privadas, desde a mais tenra infância. É claro que esse tipo de programa necessita de toda uma adaptação sobre a forma como falar sobre esse assunto com crianças muito pequenas. Por exemplo, nas fases iniciais pode-se fazer prevenção estimulando o aprendizado de saúde e de formas básicas de cuidar de vários aspectos do corpo, como higiene dentária, entender as escolhas alimentares, etc.

2 – Programas de Prevenção Comunitários: Deveríamos ter uma fonte de financiamento de programas preventivos comunitários, onde os municípios pudessem, através dos seus Conselhos Municipais Antidrogas (esses conselhos já existem num número substancial de municípios) criar projetos estratégicos, com especial atenção aos adolescentes com maior risco de usarem drogas. Vale a pena ressaltar que os adolescentes são muito desassistidos em termos de políticas sociais. A própria Organização Mundial da Saúde já reconheceu isso e existe um movimento mundial de transformar os adolescentes como um grupo de risco, à semelhança do que ocorrem com as crianças, idosos e mulheres. Não resta dúvida de que essa faixa etária deveria receber um grande destaque numa política de prevenção. As evidências mostram que se um jovem não usou drogas até os 21 anos dificilmente usará. Portanto todos os esforços deveriam ir nessa direção. Além disso somente as comunidades locais, ou os municípios têm condições de identificar o problema e propor soluções. O que muitas vezes os municipios não sabem fazer é como desenvolver esses programas preventivos com consistência técnica. Deveria ser função do governo federal fornecer a capacitação técnica geral dessas ações comunitárias, e formas de avaliação do impacto dos programas preventivos.

3 – Programas de Orientação Familiar: Existe uma grande desinformação das famílias em como ajudar essa nova geração de brasileiros a ficarem longe das drogas. As famílias recebem uma grande carga de informações fragmentadas da mídia, que acaba informando, mas também gerando medo e insegurança nos pais, sem necessariamente fornecer os meios para a prevenção. Existe um enorme oportunidade de criarmos formas comunitárias de amparar as famílias com informações de qualidade para fazer a prevenção e a eventual identificação precoce do uso.

Qual são as opções de tratamento ao problema das drogas no Brasil ?

Os milhares de brasileiros que desenvolvem a dependência química acabam não recebendo a devida assistência causando um enorme problema para as suas famílias e para as comunidades como um todo. Devemos propor uma mudança substancial na forma como a assistência a essas pessoas é feita, garantindo que cada brasileiro possa receber o melhor tratamento possível. A proposta é baseada em 2 princípios:



1 - Mudança do financiamento e do controle da assistência ao Dependente Químico

Atualmente o Ministério da Saúde cuida da política assistencial de todo o Brasil. Infelizmente tem sido uma política muito ideologizada. A principal ideologia é que todos os pacientes deveriam ser tratados somente nos chamados CAPS-AD (Centro de Atenção Psico Social para Álcool e Drogas). Infelizmente uma parte substancial dos dependentes químicos não adere a esse tipo de tratamento. Por exemplo, a maioria dos usuários de crack necessita de um tratamento bem mais estruturado, com internações em clínicas especializadas. Devido a essa ideologia o governo tem se afastado de uma solução satisfatória para o tratamento dessa população. É impossível fazer uma única política para um país tão diferente como o Brasil. Assim como não se trata uma doença tão complexa como a dependência do crack somente em um único lugar como os CAPS-AD. Na prática deixamos um grande número de usuários de crack e suas famílias completamente desassistidos.

Cada Estado da União deve assumir a política mais ajustada para enfrentar esta epidemia e para isto, gerenciar o financiamento da implantação e avaliação de sua rede de serviços. A Federação, através do SUS deve fornecer os recursos necessários e com orçamento específico para o tratamento da Dependência Química.

Os projetos de cada estado devem buscar formas assistenciais que sejam baseados em evidências científicas. Deveríamos ter projetos para populações específicas como: usuários de crack, dependentes do álcool, etc. De acordo com as necessidades e prioridades de cada estado. Criar instituições/especialistas responsáveis, estrategicamente escolhidos, para acompanhar a implantação e avaliação do desenho da rede, integrando recursos, fiscalizado pelo Conselho Estadual sobre Drogas (CONED). Todos os estados brasileiros têm um CONED, que infelizmente fica inoperante em relação à prevenção e ao tratamento da dependência química. Poderia ser uma política muito boa ao valorizarmos esses conselhos, através de financiamentos específicos.

2 – Busca de Metas Objetivas

As principais metas devem ser:

1. Mapear os recursos existentes em cada estado, e criar o seu “mapa de assistência” baseados em dois formatos: 1) os recursos formais que atendam ou possa atender pacientes com dependência química (Unidade Básica de Saúde, Prontos Socorros, Centro de Atenção Psicosocial (CAPS), Hospital Dia, Hospital Geral, Hospitais Psiquiátricos, Comunidades Terapêuticas, Moradias Assistidas, etc) e 2) os recursos informais comunitários (Alcoólicos Anônimos, Narcóticos Anônimos, Grupos de Amor Exigente, grupos religiosos, etc);



2. O sistema formal de tratamento deve trabalhar em sintonia com o setor informal. Todos os CAPS deve oferecer as suas instalações para grupos comunitários de AA, NA e Amor Exigente. De preferência esses grupos deveriam ser ouvidos na gestão dos serviços públicos na área;



3. Desenvolver o treinamento das equipes mínimas de saúde e assistência social, selecionadas estrategicamente para este fim (Unidade Básica de Saúde, CAPS, Hospital Geral, Pronto Socorros, etc), assim como dos serviços ou instituições informais;



4. a prioridade assistencial e de prevenção deve ser o adolescente e adultos jovens, sendo que a implicação dessa escolha deva ser criar serviços específicos para o tratamento ambulatorial e de internação para essa população. Nenhum adolescente deveria ficar sem receber o melhor atendimento devido às repercussões do uso de substancias.



5. A assistência deve incluir todos os recursos e todos os CAPSad devem instituir o sistema de “porta aberta”. Os CAPSad deveriam se responsabilizar por encontrar o melhor tratamento para todos os pacientes e familiares que busquem esses serviços. Mesmo se o paciente abandonar o tratamento os CAPSad deveriam continuar oferecendo serviços para a família e buscar ativamente o engajamento dessa pessoa no serviço.



6. A internação involuntária deveria ser considerada como uma possibilidade de tratamento, desde que siga todas as condições já estipuladas em lei;



7. Todos os serviços de saúde da rede devem buscar a identificação precoce através de triagem para detectar o usuário problemático e imediatamente referendar para o CAPSad de referência;



8. O financiamento do SUS para o tratamento da Dependência Química deve ser para todos os serviços que recebam evidências na literatura médica internacional, são eles : Comunidades Terapêuticas, Enfermarias Especializadas em Hospitais Gerais e em Hospitais Psiquiátricos, Moradias Assistidas, Ambulatórios de Especialidades, Prontos Socorros.



9. Todo cidadão deveria receber o melhor cuidado possível disponível, de acordo com a sua necessidade clínica. Privar uma pessoa desses cuidados é uma negação dos direitos de cidadania.



10. O gestor público deveria de ter o compromisso de divulgar todos os serviços disponíveis na sua região para as famílias, escolas e comunidades.
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