terça-feira, 31 de agosto de 2010

DROGAS NA ESCOLA


Pe. Eduardo Delazeri

Pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) divulgaram, recentemente um levantamento inédito sobre o consumo de drogas entre estudantes de escolas paulistanas. O estudo teve a participação de 5.226 alunos do 8º e 9º ano do ensino fundamental e dos três anos do ensino médio, em 37 escolas.

De todas as drogas o álcool se mostrou, de longe, a mais usada: 40% dos estudantes haviam bebido no mês anterior à pesquisa, enquanto 10% haviam consumido tabaco, a segunda droga mais prevalente, O álcool é também a droga que começa a ser consumida mais cedo, com média de idade de 13 anos. O primeiro consumo de álcool ocorreu em casa para a maior parte dos entrevistados: 46%.

Muitas vezes as campanhas preventivas são focadas em drogas como maconha e cocaína. O estudo mostrou que cerca de 80% dos estudantes do ensino fundamental e 70% do ensino médio nunca usaram qualquer droga exceto álcool e tabaco. Mesmo entre os adolescentes que utilizaram outras drogas, nada se aproximou do padrão de consumo caracterizado pelo comportamento binge relacionado com o álcool, comportamento que acontece quando uma pessoa perde o controle momentâneo, consumindo rapidamente uma grande quantidade de álcool em um curto período de tempo.

Segundo o estudo, o primeiro consumo de álcool ocorreu principalmente na casa do adolescente (46%), na casa de amigos (26%). A bebida foi oferecida pela primeira vez por familiares (46%) ou amigos (28%). Apenas uma parcela de 21% respondeu “peguei sozinho”. Os meninos deram preferência à cerveja e as meninas às bebidas: batidas, caipirinha e vinho.

O tabaco, assim como o álcool, esteve mais associado a alunos do ensino médio: 33% dos alunos experimentaram alguma vez na vida, contra 14,8% do ensino fundamental. Os fumantes regulares correspondem a cerca de 4% dos estudantes do ensino médio e menos de 1% do ensino fundamental. Meninos e meninas fumam em quantidade e freqüência semelhantes.

A freqüência de consumo de álcool foi maior nas escolas públicas. Mas nas particulares, os estudantes que bebem estão mais sujeitos ao exagero.

O adolescente que arrisca no consumo de drogas também se arrisca em outros aspectos da vida. As ações preventivas não devem focar apenas nas substâncias psicoativas, mas o desenvolvimento do adolescente em relação a comportamentos agressivos, hiperatividade e dificuldades de aprendizado.

Outros fatores de risco para o comportamento “binge”, segundo a pesquisa, foram o sexo (o risco aumenta em 70% entre os meninos), idade (50% para cada ano a mais), pais separados (30% mais risco), não confiar em Deus (40%) e não conversar com os pais (60%). A condição socioeconômica também influencia: o risco é duas vezes maior entre os alunos das escolas com mensalidade acima de R$ 1,2 mil.

Apesar de a condição socioeconômica ter sido um fator de risco em relação ao “binge drinking”, é impressionante a semelhança entre os padrões de consumo e os tipos de drogas presentes nas escolas privadas e públicas. Notamos grandes diferenças com resultados de outros países, mas os estudos feitos aqui sugerem que há uma cultura brasileira de consumo de drogas e álcool e tabaco são as piores.

Para a solução sugiro: Comunidades Terapêuticas, Trabalho Ambulatorial ou “Imersão” e Amor Exigente. É evidente que quem pratica honestamente a sua religião não tem problema com álcool e outras drogas.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Mães pretendiam vender filhos em troca de crack

Olá, amigos em Cristo!

O texto abaixo é um choque de realidade. Já ouvimos histórias de jovens e adultos que vendem de tudo para conseguir dinheiro exigido pelos traficantes. Eletrodomésticos, roupas, comida. A grande novidade agora é a entrega sem limites por uma substância que domina nossa corpo e nossa mente. A matéria abaixo é do jornalista Adriano Duarte e foi escrita no mês de julho de 2010 para o jornal Pioneiro, de Caxias do Sul (RS). Conta o drama de prostitutas que mesmo antes de dar à luz a seus filhos os negociaram em troca de drogas. Leia e surpreenda-se como nós.

Abraço,
Juliano Rigatti e Samanta Lançanova

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Mães pretendiam vender filhos em troca de crack
Ação do Ministério Público fez com que sete mães perdessem a guarda das criançasAdriano Duarte | adriano.duarte@pioneiro.com | Jornal O Pioneiro

Esqueça viciados que extorquem pais, irmãos, avós. Que assaltam para sustentar o vício. Que se vendem em troca de droga. Em Farroupilha, próspera cidade da Serra gaúcha, sete usuárias de crack escreveram um novo capítulo na decadência em que mergulham os dependentes químicos. Engravidaram e acertaram a venda dos seus bebês, em troca de dinheiro. O suposto esquema só foi abortado pela Justiça porque uma das mães, arrependida, teria contado tudo a uma promotora. Atualmente protegidas pela Justiça, as sete crianças foram tiradas do convívio materno e aguardam, num abrigo público, chance de recomeço em outra família.

As prostitutas frequentam rodovias e boates da região da Lomba do Sabão, em Farroupilha. As mulheres, com idades entre 20 e 30 anos, engravidaram entre junho e agosto de 2009. Durante a gestação, teriam negociado previamente a venda das crianças com cafetinas, o que está sendo investigado pelas autoridades. Para entregar os filhos logo após o nascimento, cada uma receberia R$ 1 mil. O negócio seria intermediado por advogados.

Além do crack, as sete jovens têm em comum o fato de se prostituírem e morarem no conhecido ponto de Farroupilha que reúne boates abertas dia e noite. Tudo ruiu porque uma delas denunciou o esquema à promotora Cláudia Formolo Hendler Balbinot. De março a junho deste ano, com apoio da Justiça, Cláudia tirou a guarda de seis meninas e um menino das mães e os colocou em um abrigo para adoção.

A trama foi revelada em março, por meio de uma carta que teria sido escrita por uma das garotas de programa, na qual ela pedia ajuda da promotora, dando detalhes de como aconteceria a venda dos bebês. O relato ajudou a reforçar a atenção da promotoria, que já monitorava três grávidas da Lomba do Sabão suspeitas de pretenderem vender as crianças.

Na carta, a jovem diz que ela e suas conhecidas se prostituíam para receber a droga como pagamento. Ao final da gravidez, as cafetinas forçariam a entrega dos bebês, que seriam repassados a outras famílias. Para manter as mães em silêncio, prometeram dinheiro. A negociação ficaria facilitada pelo forte envolvimento das mães com o crack e teria o intermédio de um homem, não identificado.

Avós podem ganhar a guarda – A promotora determinou o acompanhamento da gestação por outros órgãos da cidade. Um estudo social mostrou que as sete mulheres e seus familiares não tinham condições de criar os filhos. Por isso, a Justiça determinou o recolhimento de todos os bebês assim que nascessem. A medida judicial também deixou claro que as mulheres não poderiam ter contato posterior com as crianças. Para a promotora, a ação impediu que os meninos e meninas sofressem com maus-tratos ou abandono. Ela acredita que as mães não queriam e também não conseguiriam cuidar dos bebês.

Uma das gestantes, sabendo que perderia a guarda do bebê, se refugiou com outros viciados em um ônibus abandonado às margens da RSC-470, em Bento Gonçalves. Alertados, PMs localizaram a mulher e a trouxeram de volta à cidade.

Durante a gestação, todas elas usaram crack. Por esse motivo, o juiz Mário Maggioni determinou a internação compulsória delas para proteger os bebês. O tratamento, porém, foi descumprido. Nas audiências posteriores ao nascimento, três homens se apresentaram como pais, mas nenhum apresentou condições de assumir a criação. Segundo a promotora, dois avós manifestaram vontade de ficar com os bebês. Os pedidos ainda estão sob avaliação judicial.

Mãe deseja a filha de volta – O cheiro de cigarro está impregnado na casa, misto de boate e moradia na Lomba do Sabão (Farroupilha). Sentada sobre um sofá rasgado, a jovem de 21 anos não admite ser viciada em crack. Muito magra, ela tenta disfarçar a condição de dependente das pedras. Mas seu histórico extenso, que inclui passagens por casas de tratamento, Conselho Tutelar e delegacias, indica que o vício nunca foi interrompido.

Ela teria sido a pessoa que escreveu a carta (acima) pedindo ajuda do Ministério Público. Juliana nega. Acredita que alguém usou seu nome para lhe prejudicar. Também afirma que nunca houve negociação para vender seu bebê. Ela tem outros dois filhos que moram com o pai e com uma avó.

Enquanto conta parte de sua história, a jovem chora. Diz que ainda sente o cheiro de sua filha e não esquece o dia do parto. A menina nasceu na segunda semana de abril, cercada de cuidados, pois a gestação não teve acompanhamento médico. Juliana sentiu as primeiras contrações de manhã, mas só procurou o médico à tarde, quando a dona da boate apareceu. Na cama, ao ouvir o primeiro choro, ela pediu para ver a menina. As enfermeiras trouxeram a criança, e a jovem a abraçou por dois minutos. Quando teve a filha, diz ter parado de usar crack e de ir à estrada se prostituir. Ela tentou sensibilizar a Justiça, mas não convenceu:

– Minha mãe tem condições de ficar com o bebê, mas negaram.

Juliana diz ter procurado um advogado para tentar reconquistar a filha. A partir desse dia, promete que entrará em um programa de reabilitação.

– Mesmo sendo a mãe que fui, mereço ter minha filha de volta. Sinto o cheiro dela quando vou dormir.

À espera da nova família – Sem as mães, os sete bebês recebem cuidados das educadoras do abrigo público de Farroupilha. São alimentados com suplementos receitados por um médico e dormem em um berçário com sistema de água aquecida. Os recém-nascidos estão sob um controle rígido, não sendo permitido o contato com pessoas de fora ou com as outras crianças da casa, também acolhidas devido a maus-tratos e abandono. A medida tem o objetivo de evitar doenças, já que os bebês são muito frágeis.

Quando as crianças chegaram ao berçário, não apresentavam alterações, com exceção do peso reduzido. Os recém nascidos não sofreram crise de abstinência, algo que pode acontecer com filhos de viciadas. Dois bebês ficaram alguns dias no hospital. Como as mães não fizeram pré-natal, as equipes não sabem se eles poderão ter algum problema de saúde no futuro. Em alguns meses, essas crianças devem deixar a casa para estar nos braços de alguma família.

ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS

Os gêmeos de seis anos estiveram aos joelhos de vovó. João gritou: “Deus, eu quero um carrinho!” Pedro respondeu: “Deus não é surdo”. E João replicou: “Eu sei que Deus não é surdo, mas vovó é”. Não vamos permanecer surdos às causas do alcoolismo e outras drogas.

Além das causas do abuso de álcool e outras drogas que os profissionais geralmente propõem, tem outras causas muito sérias que raramente são faladas. Por exemplo, a globalização gera uma cultura mundial que afeta todas as culturas ajudando àqueles que possuem dinheiro, ter mais dinheiro; e os operários e pobres tem menos dinheiro. Muitas pessoas tentam resolver o problema de desemprego e pobreza com álcool e outras drogas.

Positivamente pensando, globalização ajuda na comunicação e na solidariedade. Globalização não é completamente negativa.

Outra causa do abuso de álcool e outras drogas é que neste mundo novo de comunicação imediata e de tecnologia digital, de mercados mundiais e de aspiração universal à paz e ao bem-estar, enfrentamos também tensões e paradoxos crescentes: vivemos numa cultura que mostra inclinação para a autonomia e para o tempo presente (o só agora) e, contudo temos um mundo com grande necessidade de construir um futuro em solidariedade: temos melhores meios de comunicação, mas experimentamos freqüentemente o isolamento e a exclusão. Alguns se beneficiaram enormemente, enquanto outros foram marginalizados e excluídos. Por isso, entram no submundo do álcool e outras drogas. O nosso mundo é cada vez mais transnacional e, no entanto, necessita de afirmar e proteger as identidades locais e particulares. O nosso conhecimento científico atingiu os mistérios profundos da vida, contudo a própria dignidade da vida e o mundo em que vivemos continuam ameaçados. E como resultado, repito que temos o problema de álcool e outras drogas.

Existem duas respostas espirituais: Nossa Senhora de Guadalupe fala: “Não estou aqui ao seu lado? Sou sua mãe. Que mais deseja? Não permita que nada o aflija ou o perturbe”. E ouvimos à Jesus: “Eu vim para que tenha a vida, e a vida mais abundantemente”. Só com trabalho profissional e intensamente espiritual, resolveremos os problemas do submundo da pobreza, incluindo álcool e outras drogas.

Um homem surdo ganhou novamente sua audição. Logo ele começou a ouvir as conversas de sua família e pessoas próximas. Mudou a sua herança três vezes.

Ouvindo muitas pessoas falar sobre as soluções para as vítimas de substâncias psicoativas, não vamos mudar nossas idéias. São principalmente duplas: uma vida profissional e intensamente espiritual.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

VIOLINO

A santidade deve ser sempre despretensiosa. Cito uma poesia: “A rosa floresce porque sua natureza é florescer, sem perguntar por que floresce. Não se enfeita nem se ajeita para atrair o olhar...”.

Paulo tem escrito “a fé é do coração”. Os lábios expressam essa fé no louvor, dizendo que Jesus Cristo é o Senhor (Rm 10,9). Cristo disse que seu amor sai do nosso interior como rios de água viva (Jô 7,37) e nos conduzem a servir aos homens com justiça social.

Compreendemos a importância de chegar às pessoas quer estivessem nas fronteiras, quer no centro da sociedade. Percebemos também a importância de reconciliar os desavindos. Somos enviados para as fronteiras para o novo mundo, a anunciar o Senhor a povos e culturas que ainda não O conheciam. Pregamos o Evangelho a muitas culturas, partilhando conhecimentos e aprendendo de outros entre ricos e pobres, entre cultos e ignorantes. Devíamos cuidar dos doentes.

Somos enviados a esta missão pelo Pai, juntamente com Cristo, ressuscitado e glorificado, mas ainda levando a cruz, que trabalha num mundo que ainda tem de experimentar a plenitude da Sua reconciliação. Num mundo dilacerado pela violência, pelo álcool e outras drogas, pela luta e pela divisão, somos chamados com os outros a comprometermo-nos com Deus “que, em Cristo, reconcilia o mundo consigo, sem ter em conta os seus pecados” (2Cor 5, 19). Essa reconciliação chama-nos a construirmos um mundo novo de relações justas, um novo Jubileu que supere rodas as divisões, de modo que Deus possa restaurar a justiça para todos. É o reino de Deus.

Só poderemos ser pontes, no meio das divisões de um mundo fragmentado, se estivermos unidos pelo amor de Cristo nosso Senhor.

Um grupo estava ouvindo música em um restaurante chinês. De repente, um solista começou a tocar uma música vagamente familiar. Todos reconheceram a melodia, mas ninguém conseguiu lembrar o nome dela. Por isso, fizeram sinal ao impecável garçom e lhe pediram para descobrir o que o músico estava tocando. O garçom saiu bamboleando e dali a pouco voltou com uma expressão de trunfo no rosto e cochichou alto:

- Violino!

Em Cristo vamos dar perfume espiritual como uma rosa e tocar música espiritual no violino de nosso coração.

sábado, 14 de agosto de 2010

Está bom assim como está?

Olá, amigos em Cristo!

No post de hoje, queremos deixar duas importantes dicas de leitura e de pesquisa para quem está passando por esta dificuldade ou conhece alguém querido que está nesta situção.

A primeira dica é o texto do Marcos L. Susskind, membro do grupo Tikvá, de São Paulo, e presidente do JACS-Brasil. Clicando no link abaixo vocês poderão ler uma importante mensagem do Marcos sobre o 8º Princípio Básico: A Crise. Aqui, explico o porquê do título deste post ("Está bom assim como está?"). Entendo que o fundamental deste princípio é que a pessoa que ama o dependente químico possa se dar conta de que não está bom assim. É preciso mudança. E o Marcos nos fala da Crise de uma forma bem interessante. Ele diz que, assim como o dependente químico causou uma Crise (negativa), fazendo a casa ou o grupo de amigos mudar para pior em função de seu comportamento, assim também quem o ama deve provocar uma Crise (positiva). Mas eu posso gerar a crise de qualquer jeito? Não! Por isso leia o texto do Marcos L. Susskind no link abaixo:
http://www.amorexigente.org.br/exibir.asp?haberID=53

A segunda dica deste post é para quem precisa de ajuda. O site oficial do Amor Exigente (acesse clicando aqui) traz uma lista com 116 endereços de grupos de apoio no Rio Grande do Sul disponíveis a quem precisa de ajuda nesta luta contra a dependência química. Mas antes de clicar no link abaixo, não esqueça: "Sozinhos estamos perdidos; em comunidade encontramos a nossa força." Busque ajuda!
http://www.amorexigente.org.br/busca-grupos/applications/GruposdeApoioList.asp?s_SEDE=&s_UF=RS&frmGruposdeApoioListPage=1

Um abraço forte,
Juliano Rigatti e Samanta Lançanova

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

DOIS FAZENDEIROS

Dois irmãos, um solteirão, o outro casado, possuíam uma fazenda. Metade dos grãos produzidos foram para um irmão, metade para outro. Em princípio, tudo correu bem. O casado pensou: “Isto não é justo. Meu irmão não é casado e recebe metade da produção da fazenda. Aqui estou eu, com mulher e cinco filhos, a fim de ter toda a segurança de que preciso para a velhice. Mas quem cuidará de meu pobre irmão quando ele ficar velho? Com isso ele se levanta, entra às escondidas na casa do irmão e despeja uma saca de grãos no celeiro. O solteiro pensou: “Isso simplesmente não é justo. Meu irmão tem mulher e cinco filhos e recebe metade da produção da fazenda. Ora, eu não tenho de sustentar ninguém além de mim. Assim é justo que meu irmão, cuja necessidade é, obviamente, maior do que a minha, deva receber mais sacos de grãos do que eu. Uma noite, saíram da cama ao mesmo tempo e se colidiram, cada um com uma saca de grãos às costa.

Muitos anos mais tarde. Quando a gente da cidade quis construir um templo, escolheram o lugar onde os dois irmãos se encontraram.

A base de uma vida espiritual e feliz é ter desapego a todas as coisas. Tal vida é difícil e dura, porém dá paz, alegria e tranqüilidade. Capacidades pessoais são os talentos e os dons da natureza. Temos dons sobrenaturais, as consolações ou desolações interiores, a posição que nós ocupamos na sociedade, o emprego, a habitação, as pessoas com quem convivemos.
A natureza prefere a saúde e tem horror à enfermidade e isso tão fortemente que, embora possamos fazer-nos indiferentes á saúde ou á enfermidade, quando esta chega, a sensibilidade protesta e suporta com pesar seus incômodos. Todavia, é preciso fazer-nos indiferentes porque, se é verdade que com saúde muitos se salvaram, outros, que com saúde talvez se tivessem desviado do caminho e obtiveram, com enfermidade do corpo, a saúde da alma. Quer isso dizer que saúde e enfermidade e outras condições também são puros meios aos quais só se deve atender se conduzem, ou não, à salvação. Um bom cristão pensa assim.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

A PRECE DE UM JUIZ


Senhor, eu sou o único ser na terra a quem Tu deste uma parcela da Tua Onipotência: o poder de condenar ou absolver meus semelhantes.

Diante de mim as pessoas se inclinam; á minha voz acorrem; á minha palavra obedecem; ao meu lado se entregam, ao meu gesto se unem, ou se separam, ou se despojam. Ao meu aceno as portas das prisões se fecham ás costas do condenado ou se lhe abrem, um dia, para a liberdade. O meu veredicto pode transformar a pobreza em abastança e a riqueza em miséria. Da minha decisão depende o destino de muitas vidas. Sábios e ignorantes, ricos e pobres, homens e mulheres, os nasciturnos, as crianças, os jovens, os loucos e os moribundos, todos estão sujeitos, desde o nascimento até a morte, á lei, que eu represento, e á justiça, que eu simbolismo.

Quã pesado e terrível é o fardo que puseste nos meus ombros! Ajuda-me, Senhor! Faze com que eu seja digno desta excelsa missão! Que não me seduza a vaidade do cargo, não me invada o orgulho, não me atraia a tentação do Mal, não me fascinem as honrarias, não me exaltem as glórias vãs. Unge as minhas mãos, cinge a minha fronte , bafeja o meu espírito, a fim de que eu seja um sacerdote do Direito, que Tu criaste para a sociedade humana. Faze de minha Toga um manto incorruptível. E da minha pena não o estilete que fere, mas a seta que assinala a trajetória da Lei, no caminho da Justiça. Ajuda-me , Senhor, a ser justo e firme , honesto e puro, comedido e nagnânimo, sereno e humilde. Que eu seja implacável com o erro, mas compreensivo com os que erraram. Amigo da verdade e guia dos que a procuram. Aplicador da Lei, mas antes de tudo seu cumpridor. Não permitas, jamais, que eu lave as mão como Pilatos diante do inocente, nem atire, como Herodes, sobre os ombros do oprimido, a túnica do opróbrio.Que eu não tema César e nem por temor dele, pergunte ao poviléu, se ele prefere Barrabás ou Jesus...

Que o meu veredito não seja o anátema candente e sim, a mensagem que regenera, a voz que conforta, a luz que clareia, a água que purifica, a semente que germina, a flor que nasce no azedume do coração humano.

Que a minha sentença possa levar consolo ao atribulado e alento ao perseguido. Que ela possa enxugar as lágrimas da viúva e o pranto dos órfãos. E quando, diante do cátedra em que me assento desfilarem os andrajos, os miseráveis, os párias sem fé e sem esperança nos homens, espezinhados, escorraçados, pisoteados e cujas bocas salivam sem ter pão e cujos rostos são lavados nas lágrimas da dor, da humilhação e do desprezo, ajuda-me a saciar a sua fome e sede de Justiça!

Ajuda-me Senhor!

Quando minhas horas se povoarem de sombras, quando as urzes e os cardos do caminho me ferirem os pés; quando for grande a maldade dos homens; quando as labaredas do ódio crepitarem e os punhos se erguerem; quando o maquiavelismo e a solércia se insinuarem nos caminhos do Bem e inverterem as regras da razão ; quando o tentador ofuscar a minha mente e perturbar os meus sentidos. Ajuda-me Senhor!

Quando me atormentar a dúvida; ilumina o meu espírito; quando eu vacilar, alenta a minha alma; quando eu esmorecer, conforta-me; quando eu tropeçar, ampara-me.

E quando um dia, finalmente, eu sucumbir e já então, como réu, comparecer á Tua Augusta Presença para o última Juízo; olha compassivo para mim. Dita, Senhor, a Tua sentença.

Julga-me como Deus...


Eu julguei como um homem.

JOÃO ALFREDO MEDEIROS VIEIRA -Juiz de Direito

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

TANTO QUANTO



Palavras são indicadores da realidade, não reflexos. Mas, como afirmam os orientais, “Quando o Sábio aponta a lua, o dedo é tudo o que o tolo vê!”

Certa noite, um bêbado atravessava cambaleando uma ponte quando colidiu com um amigo. Os dois detiveram-se na ponte e começaram a conversar um pouco. –“ O que é aquilo lá embaixo?” perguntou o bêbado de repente. –“É a lua.” respondeu o amigo. O bêbado olhou de novo, sacudiu a cabeça, sem acreditar no que vira e disse: -“Está bem, está bem. Mas como, diabos, vim parar aqui em cima?”

Quase nunca vemos a realidade. O que vemos é um reflexo dela em forma de palavras e conceitos que, então, passamos a considerar realidade. O mundo em que vivemos é, na maior parte, síntese mental.

Santo Inácio de Loyola diz: “Revemos as coisas deste mundo na medida que o ajudem a atingir a nossa salvação, e de privar-se delas tanto quanto elas nos afastem”. O Santo fala do uso e não do gozo das criaturas; são para o homem usá-las e não somente gozar delas. As coisas materiais são meios. Os meios não nos movem a praticarmos alguma ação enquanto é útil para a sua finalidade. Devemos referir todas as coisas à finalidade que temos em vista.

Não é, pois, o meio, propriamente dito, que nos move a praticar alguma ação, mas o fim que com ele pretendemos conseguir. Não é a vassoura que nos leva a varrer a sala, mas o fim de ter a sala limpa. Se nos propomos pintar um quadro, não escolhemos as cores mais agradáveis, porém as que mais conduzem ao fim que temos em vista. Se desejamos recobrar a saúde, não procuramos os remédios doces e suaves, senão os que nos podem restituir a saúde.

Convém que essa verdade entre bem no fundo do coração. Nosso fim é o serviço de Deus, a glória de Deus, o gozo de Deus por toda a eternidade. Tudo o mais que não seja Deus, como honras, riquezas, saúde, liberdade, vida, são puros meios, nem sempre benéficos em si mesmos, senão enquanto nos conduzem a Deus, e tanto havemos de usá-los quanto nos conduzem a Deus.

O afeto e a aversão não constituem o critério no uso das criaturas, senão somente a finalidade. Há criaturas muito atraentes que nos afastam do fim. É preciso abandoná-las. Para as lícitas o uso deve ser moderado com relação ao fim, e tanto quanto conduzem ao fim. Todas as criaturas são como uma luva, só usamos aquela luva que cabe bem em nossa mão.

SER PADRE


Padre, pessoa de Deus
Porta voz de Jesus Cristo

Ser Padre é uma aventura
Viver entre espinhos e rosas
Sem nunca reclamar
Pronto a nos ajudar

Padre é aquele que perdoa
Que partilha os Sacramentos
Que anuncia a Boa-Nova
Que da massa é o fermento

Ser Padre é estar a serviço dos outros
Sem se preocupar com o tempo
Ser Padre é partilhar O pão que é Jesus
Alimenta com a palavra
Mostrando esta luz

Ser Padre: É ser alegre e otimista
É ser sal e luz
É ajudar o irmão
É sentir o peso da cruz
É ser filho de Deus
É ser irmão de Jesus!

Ser padre é ser “pai” de uma comunidade inteira. Como tal, ele é o homem da Palavra de Deus, da Eucaristia, do perdão e da bênção, exemplo de humildade, penitência e tolerância, o pregador e conversor da fé cristã. Enfim, é um comunicador e entusiasta da Igreja, que luta por uma vivência cristã mais perfeita.

Parabéns a todos os padres!!!
Muitas bençãos e graças na caminhada sacerdotal dos nosso padres!

terça-feira, 3 de agosto de 2010

ORAÇÃO


Não pretendemos apontar formulas. Queremos olhar para atitudes. A teologia da Revelação diz que Deus quer se revelar e conversar com os homens como com amigos.
“A constituição Dei Verbum do Concílio Vaticano II descreveu a Revelação como o ato mediante o qual Deus se manifesta pessoalmente aos homens” (Diretório Geral para a Catequese,p.41). De fato pode-se ler claramente em Dei Verbum n.2: “Aprouve a Deus, em sua bondade e sabedoria, revelar-se a si mesmo e tornar conhecido o mistério de sua vontade, pelo qual os homens...têm acesso ao Pai e se tornam participantes da natureza divina”. Aceitando o auto testemunho da bíblia pode ser lido em Hebreus 1,1-2: “Muitas vezes e de diversos modos outrora falou Deus aos nossos pais pelos profetas. Ultimamente nos falou por seu Filho, que constituiu herdeiro universal, pelo qual criou todas as coisas”.
Deus procura a pessoa para falar. Estamos muitas vezes tão ocupados com nossas coisas que não estamos atentos a Deus. Temos até bastante dificuldade para entender que Deus possa querer falar com a gente.
Quem se encontra? Eu e Deus. Dois que eu ainda não conheço bem. Vou começar a me conhecer. Percorro minha história. Somos seres históricos. A história nos marca muito, positiva e negativamente. Quais foram minhas grandes alegrias, meus deslumbramentos, meus entusiasmos? Também devo me perguntar quais foram minhas experiências negativas. Já perdoei as mágoas causadas em mim? Já superei os recalques que ainda teimam em permanecer nos porões do meu subconsciente? Como aceito toda a minha história? Me alegro com minha história? Ela me ajuda a me conhecer melhor? Quais são normalmente meus sentimentos? De ressentimento, de vingança, de soberba, de presunção? Sou um preguiçoso?
Posso dizer agora para meu amigo Deus os meus sentimentos? Tenho ainda vergonha ou sei que sou compreendido por Ele? Como consigo confiar no meu maior amigo da minha vida e que aposta em mim através de seu perdão? Ele, aliás, me conhece melhor do que eu mesmo. Como Ele me conhece? As minhas soberbas, a minha preguiça, a minha luxúria, minha gula se manifestam muitas vezes indiretamente. Consigo diante dele identificar os sentimentos que provém destes demônios?
Deus se manifesta em Jesus. Ele me conhece e me chama de amigo. Como é esta amizade dele? Ele tem suficiente paciência comigo? Ele tem suficiente confiança em mim? Onde posso provar isto? Como faço para escutar o que Ele me tem a dizer? Vou treinar minha atenção pois o linguajar de Deus é muito discreto!
Posso partilhar com Deus todos os meus sentimentos, também os da raiva, do desapontamento, da sede de vingança. Para Ele não preciso parecer. Parecer ser justo, parecer ser coerente, parecer ser bom, parecer ser misericordioso. Para Ele posso ser como sou. Isto é muito bom. Quem sabe, vou treinar minha confiança no Pai apresentando-me todos os dias como eu sou, também com os lados sombrios da minha personalidade. Ele sabe entender e até curar. Ele sabe me reeducar com sabedoria e paciência que muitas vezes não temos conosco mesmos.
Estar com Ele. Aliás, Jesus chamou os apóstolos para estarem com ele, como nos conta o evangelista Marcos 3,14. Esta com Deus é a grande finalidade de nossa criação. Vamos, pois, exercitar o que é a melhor coisa que pode nos acontecer em nossa vida. Mas não é um estar com Ele qualquer. Ele nos acolhe, Ele nos fala, Ele nos introduz à verdadeira vida.
Viver plena comunhão de pensamentos, desejos, aspirações, projetos, sonhos. Assim deverá ser com Deus que sempre é presença e ocultamento. Revelação e mistério estão sempre juntos no relacionamento que temos com Deus. Ele é sempre o Outro.

POVO DE DEUS


A comunidade eclesial foi motivada a partir de quatro pilares do Concílio (Palavra, celebração, fé x vida, sociedade). Hoje para nós, muito marcados pelo individualismo, poderá soar difícil, mas nem por isso deixa de ser verdadeiro: “Aprouve santificar e salvar os homens não singularmente, sem nenhuma conexão uns com os outros, mas constituí-los num povo, que o conhecesse na verdade e santamente O servisse” (LG n9). Longe de ser uma realidade, ainda é uma meta a ser alcançada, diuturna e perseverantemente.
Porque Deus não quis nem quer indivíduos? Deus nem pode fazer diferente pois toda pessoa querida por ele é relação. Ela existe para os outros e não existe para si mesma. Ela só se realiza plenamente quando consegue viver relação. E isto pode acontecer no Povo de Deus. Temos uma bela descrição do que seja pessoa com João Paulo II: pessoa é dom sincero de si para os outros.
NMI n 42: “... se torna necessário um decidido empenho programático da Igreja universal e das Igrejas particulares: o da comunhão (koinonia), que encarna e manifesta a própria essência do mistério da Igreja. A comunhão deve acontecer e se estender até a pessoa mais esquecida da comunidade. NMI n 43 “Espiritualidade da comunhão significa também a capacidade de sentir o irmão de fé na unidade profunda do Corpo místico, isto é, como um que faz parte de mim”, para saber partilhar as suas alegrias e os seus sofrimentos, para intuir os seus anseios e dar remédio às suas necessidades, para oferecer-lhe uma verdadeira e profunda amizade”. Aqui é necessário um empenho específico do agente de pastoral nas comunidades eclesiais. Onde se constrói comunhão está se construindo Igreja.
Lembremos e tomemos, mais uma vez, consciência que neste mundo individualista em que vivemos também nós nos tornamos individualistas. O risco de dispensar a vida da comunidade é uma tentação que se abate sobre nós como um demônio tempestuoso. O que exige de mudança de vida em nós a vivência de comunhão e participação? Dom Dadeus diz: “Mais difícil, porém, é dar testemunho da convivência cristã, que forma comunhão eclesial: ser mártir desta convivência, dando a vida por ela, para não rompê-la, nem permitir que seja rompida” (A Igreja de Cristo, p 89)
Participação, que pode ser expressa pelo vocábulo corresponsabilidade, supõe que todos os fiéis estejam empenhados na construção do Reino de Deus e tenham acesso a todos os bens que dele possam vir. “A evangelização é um chamado à participação na comunhão trinitária.” (Pb 218).Ter participação é reconhecer que há um todo que precisa ser preservado sob risco de morte. Se a alguém é vedada a participação dos bens do Reino é vedada ao todo. Será por isso que há muitos sinais de morte? O outro modo de participação é a oferta de auxílio na construção da Igreja, sinal do Reino. Ainda não há participação e corresponsabilidade enquanto as pessoas procuram fazer “o que o padre pensa”. Embora este seja um grande iluminado, o Espírito Santo também está gemendo em todo o povo de Deus (cf Rm 8,23). Os padres não “respondem sozinhos” diante de Deus pelos sucessos ou insucessos da paróquia. Todos os participantes (se de fato assim os fazemos ser!) são corresponsáveis. Para que a participação e a corresponsabilidade sejam efetivas é preciso acontecer a descentralização (cf.D Grings p109).
E nesta tarefa os diáconos e esposas poderão ajudar muito.
Recordemos, por fim, a frase que resume a participação total de cada membro da Igreja com a frase de 1 Cor 14,26: “Quando estais reunidos, cada um de vós pode cantar um cântico, proferir um ensinamento ou uma revelação, falar em línguas ou interpretá-las, mas que tudo se faça para a edificação”. Um dia, quem sabe, seremos de novo uma comunidade onde cada um se sente responsável pelo crescimento e vivência de todos.São Paulo também diz que somos um povo de iguais: “Não há mais grego ou judeu, homem ou mulher, escravo ou livre pois todos são um em Cristo”. Não há, portanto, cristãos de primeira ou segunda categoria.
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