segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Homilia - Primeira missa do Pe. Deigo

Saudações – A Comunidade da Conceição, Pe. Rogério, Pe. ..., todos os Visitantes, seminaristas, religiosos aqui presentes, Familiares e Padrinhos do Pe. Diego, seus Irmãos Rodrigo e Andréa, sobrinhos Pablo, Franciele e Pâmela, Mamãe Dona Solange e Papai Garcia parabéns vocês fizeram um bom trabalho. Padre Diego, sexta o senhor deu a sua primeira benção para seus pais, mas de hoje em diante, seja você sempre o primeiro a lhe pedir a Benção, e dona Solange e para o Sr. Garcia, que lhe dirão Deus te abençoe meu filho. Benção de Mãe e pai tem muito poder. Só no céu saberemos quanto bem nos foi alcançado e de quantos males fomos protegidos pela bênção de nossas mães. Amém? 

Hoje é com muita alegria que nós celebramos a solenidade da Imaculada Conceição de Nossa Senhora. E o fato de ela ter sido isenta do pecado, já na sua concepção, mostra que a força da graça redentora supera infinitamente a força do pecado. Deus realizou plenamente a redenção na Mãe do seu Filho, para nos mostrar o que ele quer de todos nós. Ela se tornou assim a estrela da esperança, que nos anima a sempre nos levantar e caminhar. Ó Maria concebida sem pecado! Rogai por nós que recorremos a vós!

Irmãos, quando se fala em padre, se pensa logo num homem presidindo a missa ou atendendo uma confissão. O perdão e o pão. Celebrará muitas missas, Pe. Diego. Oferecerá o pão da palavra e pão da Eucaristia. E tantas vezes proclamará o perdão aos penitentes! Ora, não são exatamente esses os dois pedidos do Pai Nosso? Pão e perdão. O padre é ministro do pão e do perdão. E é assim, o padre é logo visto pela missa que celebra e pela confissão que atende. 

Pe. Diego, que a sua missão como ministro do pão e do perdão, não é como um lápis que você adquire pronto e vai gastando, mas é como uma semente, que você planta, cultiva e vai aperfeiçoando a cada dia de sua vida. E nunca esqueça que é a mesa da Eucaristia, a qual serviras de hoje em diante, que afasta todo o medo, o desânimo; a tibieza, a frieza de coração, o espírito egoísta. 

O Evangelho narra a cena da Anunciação, em que o anjo Gabriel diz a Maria: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” Padre Diego, hoje eu te digo: alegra-te homem! O Senhor está contigo! Vamos repetir bem forte? Jesus está presente em você Pe. Diego quando proclamar a Palavra, Ele está presente em você; quando você age, em nome de Deus, Ele está presente em você; quando você perdoa. 

Jesus se torna presente em cada cristão e de maneira singular em cada padre, que se dedica a tornar Jesus presente na vida das pessoas. O Diego a partir de agora tem por missão ter o mesmo olhar de Jesus, o mesmo falar, e o mesmo agir e os mesmos sentimentos de nosso Senhor. Deus assim quis que nós, frágeis criaturas, o representa-se nessas grandes realidades do pão e do Perdão. Todos nós precisamos lembrar que o fato de nós sacerdotes trazer missão tão digna isso não nos faz perfeitos, e muitas vezes precisamos do perdão de vocês, povo de Deus, pelas nossas tantas fraquezas e falhas. 

Dieguinho, meu filho, não esquece que continua sendo um ser humano e vulnerável a todas as fraquezas humanas. Você assumiu uma missão admirável na Igreja, por isso te empenhe sempre na busca da santidade guri, para que possa cumprir essa missão. 

Te inspiram as palavras do apostolo Paulo: “Porque, embora seja livre de todos, fiz-me escravo de todos, para ganhar o maior número possível de pessoas.” I Cor 9,19. Grande apostolo das nações, Paulo não colocava limite em seus esforços, estava disposto a tudo e a tudo suportava com alegria, pelo Anúncio do Evangelho.

Tu bem sabe que anunciar o Reino de Deus é correr riscos, porque o amor não é abstrato, mas é pão na mesa, educação, segurança, moradia, trabalho e lazer, em fim vida digna. Anunciar o Reino de Deus, é não ficar calado diante das injustiças que acontecem à nossa volta. Agindo assim serás incompreendidos por muitos que, querem um padre “água com açúcar”, com uma pregação light, que não toque a consciência dos pecadores.

Pe. Diego, como o senhor sabe, deverá exercer o seu ministério num mundo onde existe dor, solidão, pobreza, doença, frustrações, fracassos, ansiedades, apreensões e tantos males. Olhamos ao redor e vemos muros e grades, e atrás deles pessoas com os corações cheios de medo. Lembro-me nesse momento do Beato João Paulo II, quando eleito papa, na sua primeira aparição pública disse: não tenhais medo. Diga o mesmo hoje, padre, “não terei medo”, pois Deus está contigo. Digamos todos para o Pe. Diego – Não tenha medo, pois Deus está contigo. 

Além disso, padre, o senhor tem a graça de celebrar sua primeira missa na Solenidade da Imaculada Conceição. Consagrando o teu ministério ao patrocínio da Virgem Gloriosa e Bendita, contarás sempre com seu amparo materno. 

Se o senhor aceita o testemunho desse velho padre, lhe digo com toda a certeza da fé: Deus está ao nosso lado. Nunca, em nem um momento me senti traído, abandonado ou desamparado por Deus. Pelo contrário, sempre o Bom Deus se adiantou a todas as minhas necessidades. 

Estimado amigo, não tenha medo, siga em frente. O padre diocesano segue a espiritualidade do BOM PASTOR que dá a vida pelas ovelhas. Não tenho dúvida que viverá intensamente isso, pois já está em ti, nós que tivemos a graça de conviver contigo, te conhecemos assim: humilde e esforçado, disponível e alegre, homem da comunidade e homem de Deus.

Pe. Diego, devo lembra-lo que o pão da eucaristia não se limita à mesa do altar mas se prolonga na mesa da vida, na mesa da caridade. Lembro do nosso amado papa Francisco que na cala da noite sai escondido do vaticano para socorrer os pobres e desabrigados. Nunca abandone muito menos delegue para outros a caridade, essa precisa ser realizada pelas tuas próprias mãos, só assim ira experimentar a misericórdia de Deus em teu coração. 

Padre, assim como o teu coração hoje está entupido de alegria, todos aqui nessa Igreja estamos entupidos de alegria. Amém? Pois receberemos das tuas mãos a maior de todas as Graças, a Santa Eucaristia. Sei da profunda emoção que invade o teu coração neste momento, que pela primeira vez presidi a Santa Missa. Que bela e sublime hora na tua vida padre. Nunca esqueceras. Um padre nunca esquece a primeira vez que celebrou o Santo Sacrifício. 

Agradeço a Deus por estar aqui contigo na sua primeira missa. Que Deus abençoe a seus pais, estimado Pe. Diego, que te geraram para Deus, para na Igreja ser servo fiel e amoroso. 

Pe. Diego, “Tudo é graça, e a Graça que é Cristo é tudo”. Para nós padres não nos resta mais nada neste mundo, a não ser o Cristo, e que simplesmente por isso já temos tanto, e tanto, e tanto que nada mais nos falta. 

Meu filho, confio o seu sacerdócio a proteção da Imaculada Conceição. Que ela, Discípula Fiel, te ajude a passar ileso por todas as tentações e desafios que poderão vir sobre o seu ministério. Siga em frente, seguindo os passos de Jesus o Bom Pastor, te acompanharam as minhas orações. Diego tenho toda a certeza da fé que será um padre feliz e santo. Amém?

IDIOTA

Missão – Esse poço não tem fundo.
Água sim..., e muita.

O missionário é um poeta diferente, faz poesia com a vida. O poeta da caneta usa palavras bonitas e bem escolhidas, o missionário, poeta da vida, prefere usar a proximidade e a generosidade, e quando sobram emoções e faltam palavras ele usa aquele sorriso, que mesmo sem falar nada, tem o poder de dizer tudo. O poeta da caneta escreve no papel, o poeta da vida, escreve nos corações, em seus versos talvez falte métrica, mas sobra beleza, porque rimam com esperança.


Sempre me encantou, a capacidade dos poetas de dizer muita coisa com pouquíssimas palavras. Os missionários, como as palavras do poeta, são poucos, mas fazem toda a diferença, como o sal que dá sabor, e o fermento na massa. Os missionários são poucos, o Bom Deus sabe porque, mas cada um guarda em si um mistério que nos interpela, uma força que ninguém explica, e um sorriso que nos encanta.

Com 8 anos li minha primeira poesia -"O Pé de Pilão" de Mário Quintana-, 27 anos depois, ainda posso recita-la de memória. Desde então fiquei encantando pela poesia. Lembro-me como me impressionou o tanto de espaço em branco em casa pagina, o poema bem no centro da folha, e ao redor largas margens vazias, que para mim eram um convite à criatividade. Todas as crianças deveriam ser alfabetizadas com livros de poesia, para que como eu, pudessem fazer um desenho para cada poema, ilustrar e colori, interpretando e completando, a seu modo o trabalho do poeta.

Mais ou menos assim são os testemunhos missionários, eles contrastam e revelam os espaços vazios que contornam nossa vida. Lacunas que uma vez desvendadas, não nos permitem mais ficar indiferentes, somos invadidos pelo anseio de preenchê-las. O testemunho missionário incomoda, ou melhor, desacomoda, nos impulsiona a fazer algo significativo. Assim como, as vastas margens vazias, de um livro de poesia, desafiam um guri de 8 anos, fazer um belo desejo, a poesia da vida, nos empenhora os ardentes desejos de ser mais gente.

Um dos maiores idiotas que conheci é o Pe. Fabiano Dalcin. (Idiota = ideo + ota – Nascido / movido por uma ideia / ideal, capaz de fazer algo que outros não fariam). Esse idiota, nos melhores anos de sua vida e do seu ministério, no auge de suas energias, deixa seu povo, sua terra, enfim tudo que aprendeu a amar. Percorre imensas distâncias físicas e culturais. Sofre a saudade, o isolamento, a malária e a fome. Sofre por e com, um povo dilacerado em sua dignidade, usurpado em seus direitos, espoliado de suas riquezas. Sente na própria carne o espinho da indiferença e a dor da impotência. Um idiota plenamente humano, com virtudes, talentos e fraquezas. Idiotas como ele, são o Evangelho com pernas, a caminho rumo aos preferidos de Deus.

Com esse idiota, e através dele, embarcamos na missão. Sentimos nele a prolongação da nossa missão e a realização de nossa vocação missionária. Com poderíamos sorrir para nossos irmãos de Moçambique, se não fosse pelo seu rosto, como poderíamos falar-lhes senão pela sua vós, como poderíamos tomar seus filhos em nossos braços se não pelos braços dele. Como o povo Macua saberia que os amamos se o Pe. Fabiano não estivesse lá para partilhar de suas vidas, conhecendo seus sonhos e suas dores. Que outra maneira tem para que o outro se sinta amado, se não estivermos lá, à distância de um aperto de mão, de um sorriso, ou quem sabe de duas laranjas e um pouco de açúcar que trocam de mãos.

Estribando-me nas palavras do poeta Antônio Augusto Ferreira:

Taí o poço.
Quem vier em rota de sede
Faça a viagem do balde:
Vai salgar a boca.

Viagem do balde: quando vazio é de descida, de busca, quando cheio a viagem é de generosa partilha da água fresca, aquela que mata toda a sede. O balde faz a viagem, para que os outros se saciem de água. A sede do missionário só aumenta, quando mais se bebe dessa água mais salga a própria boca.

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

ELES SÓ SABEM FAZER FILHOS!

"ELES só sabem fazer filhos!", foi à frase que a líder comunitária me disse. Senti um golpe na boca do estômago, um "não sei que" de impotência e indignação. Devia ter feito mais, mas só consegui dizer: "Graças a Deus ELES não param de fazer filhos".
A Vila Dique, cinturão de miséria que abraça o Bairro Rio Branco de Canoas formou-se nos últimos dez anos por migrantes, pessoas que vêem das regiões mais pobres do estado, retirantes, que chegam aqui com muitas esperanças no coração e quase nada nas mãos. Inicialmente qualquer lugar serve, alguns dias são acolhidos no abrigo público, depois vão para de baixo da ponte do Rio Gravataí, e finalmente quando se organização um pouco mais, num barraco em cima do dique. Região abandonada pelo poder público, desatendida de água potável e luz elétrica. Cada um se vira como pode: de uma mangueira cedida por um morador próximo, se servem vinte famílias ou mais. A luz elétrica é tudo "gato". É desconcertante olhar para cima e ver aquela teia de aranha de fios elétricos que vem e vão a todas as direções de forma que não se pode entender lógica alguma. Não é por acaso que seguido tem incêndio na vila, também um só bico no barraco, pra ligar lâmpada, televisor, geladeira... Difícil é queimar um barraco só, pois tudo é tão junto que quando há incêndio queima logo três, nem adianta chamar bombeiro é tudo muito rápido, além de que, os becos são tão pequenos que caminhão não entra mesmo.
Barracos minúsculos, uma peça só, uma porta, uma janela quase nada dentro, o que tem muito é filhos. Muitos filhos e todos lindos, sempre sorrindo com dente branquinho. Muitos filhos, todos eles sobreviventes, os irmãos morreram cedo de mais, vitimas de uma doença epidêmica muito conhecida, mas ainda sem cura: O DESCASO. 
Mês passado batizamos a Julia, um ano e quatro meses, hoje soubemos que morreu, faltou coragem para perguntar como foi. Podia dar a impressão de que estávamos mais preocupados com a causa da morte, do que, com a causa da vida. Dona Neuza logo se conformou, com a Julia já são três anjinhos no céu, em casa ainda tem o Rulivam, a Mathiele e o pequeno Lucas todos famintos, e é provável que a mãe esteja grávida mais uma vez. Mais um filho que não poderá amamentar por ser soro positivo. Quando saímos do barraco a líder comunitária me disse: "Eles só sabem fazer filhos". "Graças a Deus ELES não param de fazer filhos", respondi.
Continuam profeticamente tendo filhos e mais filhos. Contra a cegueira dos ricos a obstinação dos pobres, que continuam nascendo nos presépios contemporâneos, debaixo das pontes e nos barracos úmidos. Cada nova vida é uma prova que Deus continua acreditando em nós. Em cada pessoinha que nasce Deus nos da mais uma chance de acolhê-lo em nossos braços.
Claro que muitos preferem que ELES não nasçam. Controle de natalidade apregoam. Pior mesmo é que acreditam nisso: que é melhor não nascer. Eu me pergunto melhor para quem? Talvez seja melhor para quem não esta disposta a abrir a casa e o coração. Fica mais fácil se não estiverem nos semáforos, no centro da cidade, ou batendo a nossa porta, porque assim, não fica tão escancarado o egoísmo, a indiferença. Seria melhor que ELES desistissem de fazer tantos filhos, ai poderíamos deixar de lado a solidariedade, e teríamos mais tempo para os banquetes, e as divertidas fofocas da televisão. Querem a todo o custo nos convencer que a fome, é culpa dos muitos filhos dos pobres, quando bem sabemos que não é alimento que falta, nem terra para plantá-lo, o que falta é a partilha.
Um hospede de um hotel sete estrelas em Dubai, que paga vinte mil Euros por uma única diária nunca vai me convencer que a fome é culpa de uma família Moçambicana de seis filhos que vivem com menos de um Euro por semana. 
"Graças a Deus ELES não param de fazer filhos", lindos filhos, que irrompem profeticamente por todos os lados, com as mãozinhas estendiam em nossa direção, remédio contra a nossa auto-suficiência, a maravilhosa oportunidade que o Bom Deus nos da para ser feliz.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

ESPERAR É DIFÍCIL

- "Dona Isa, olha essa perna como ta inchada! Vai para casa dona Isa, já lhe disse tantas vezes, que não precisa esperar aqui, chegando à tarde recebe o rancho da mesma forma." Ela foi baixando os olhos lentamente, e com a humildade de quem pede perdão me disse: - "Padre, o nosso direito é reclamar, catar e esperar, não pode tirar isso de nós, é nosso direito." Completamente desarmado, pude apenas dar-lhe um grande abraço, não tinha mais nada a dizer.


Na primeira terça-feira de cada mês, distribuímos 200 ranchos, numa parceria entre a Paróquia e a SMASCI. Embora a entrega só aconteça no turno da tarde, às 7h da manhã já tem quem esteja esperando. Entre estes, dona Isa, uma anciã "brasiguaia", perna esquerda estraçalhada pela Úlcera Varicosa, 1,50 m de altura e feições guaranis. Porque chegam tão cedo?

Aquela resposta ficou ecoando em mim, um pouco pela intensidade do gesto que a acompanhou, mas sobre tudo pela força da verdade contida em cada palavra. Dona Isa, sintetiza em três palavras, muitas páginas do melhor Profetismo Bíblico. É possível que ela nunca tenha ouvido falar de Agar, Rute, Éster, Raquel, Ana, Judite..., mas bem que podia figurar entre elas. O direto do pobre é reclamar - da opressão, do preconceito, da indiferença, da corrupção; catar – as migalhas, as sobra, o lixo, as sucatas; esperar - que lhe façam justiça, que as promessas se realizem, que seja resgatado, que o Reino de Deus aconteça.

Ter fé é fácil, Deus se manifesta de muitas maneiras em nossa vida. Amar é natural sentimos muita necessidade uns dos outros. Esperar é difícil. Para cada coisa na vida existe uma esperar, por qualquer motivo e às vezes até sem motivo, acredito que ninguém goste de esperar. De fato manter-se constante em meio às tempestades da vida e a demora de Deus é difícil. Manter-se a caminho através da noite escura sem vislumbra os sinais da aurora é heroísmo. Os pobres são que mais exercitam a espera. Diante da fome, miséria e exploração vivem de esperança, pacientemente aguardando o cumprimento da justiça. Contra a cegueira dos ricos a teimosia dos pobres.

Todos têm necessidade de esperança para viver, o drama é que estamos casando de esperar. Antes os pobres não tinham casa, trabalho, alimento, hoje além de tudo isso começa a faltar à esperança. A perca da esperança gera a mais terrível das doenças o mofo da alma, também conhecida como a apatia ou morte do sonho.

Precisamos acordar a esperança. No tempo de João Batista povo estava cansando, a esperança morria a mingua, por todos os lados surgiam revoltas que rapidamente eram sufocadas pelo Império, gerando mais morte e sofrimento. Com João, irrompe de novo e com toda a força a profecia no meio do povo. O reaparecimento da profecia é a emergência do melhor do passado. É o fim de uma longa crise, em que se pensava que o "céu estava fechado" . A pregação de João é carregada de esperança. No deserto de uma província longínqua e insignificante do Império, muitos poderiam teria dito é inútil, quem poderá contra o Império. O Império é invencível. Sem os recursos do poder econômico, da política oportunista, sem conchavos, e sem derramar outro sangue que não fosse o próprio, inicia um movimento de libertação, de todos os lados acorrem multidões para o deserto para ver novamente o melhor que eles podiam ter: um homem que lhes deu significado e motivo para continuar esperando.

Nesse contexto as palavras do profeta Isaias se revestem quase de uma força sacramental: "os que esperam no Senhor renovaram as suas forças, criam asas, como águias, podem andar sem cansar, correr e não se fatigar." Is 40, 30.

Deus usa os fracos para confundir os fortes. Dona Isa, mulher pobre, guarani, idosa e doente, carrega sobre si o pesado fardo da exclusão, no entanto, tem todo o direto de ficar esperando, e não haverá quem possa lhe negará esse direito.

Só assistiremos a aurora que virá rasgando o novo dia, se em meio à noite escura continuarmos perseguindo o horizonte.
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