quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Pai estou aqui



"Todo filho é pai da morte de seu pai"

Fabrício Carpinejar
"Feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, 
e triste do filho que aparece somente no enterro 
e não se despede um pouco por dia."


Há uma quebra na história familiar onde as idades se acumulam e se sobrepõem e a ordem natural não tem sentido: é quando o filho se torna pai de seu pai. É quando o pai envelhece e começa a trotear como se estivesse dentro de uma névoa. Lento, devagar, impreciso. 

É quando aquele pai que segurava com força nossa mão já não tem como se levantar sozinho. 

É quando aquele pai, outrora firme e instransponível, enfraquece de vez e demora o dobro da respiração para sair de seu lugar. 

É quando aquele pai, que antigamente mandava e ordenava, hoje só suspira, só geme, só procura onde é a porta e onde é a janela - tudo é corredor, tudo é longe. 

É quando aquele pai, antes disposto e trabalhador, fracassa ao tirar sua própria roupa e não lembrará de seus remédios. 

E nós, como filhos, não faremos outra coisa senão trocar de papel e aceitar que somos responsáveis por aquela vida. Aquela vida que nos gerou depende de nossa vida para morrer em paz.

Todo filho é pai da morte de seu pai. Ou, quem sabe, a velhice do pai e da mãe seja curiosamente nossa última gravidez. Nosso último ensinamento. Fase para devolver os cuidados que nos foram confiados ao longo de décadas, de retribuir o amor com a amizade da escolta. E assim como mudamos a casa para atender nossos bebês, tapando tomadas e colocando cercadinhos, vamos alterar a rotina dos móveis para criar os nossos pais. Uma das primeiras transformações acontece no banheiro. Seremos pais de nossos pais na hora de pôr uma barra no box do chuveiro. A barra é emblemática. A barra é simbólica. A barra é inaugurar um cotovelo das águas.

Porque o chuveiro, simples e refrescante, agora é um temporal para os pés idosos de nossos protetores. Não podemos abandoná-los em nenhum momento, inventaremos nossos braços nas paredes. A casa de quem cuida dos pais tem braços dos filhos pelas paredes. Nossos braços estarão espalhados, sob a forma de corrimões. Pois envelhecer é andar de mãos dadas com os objetos, envelhecer é subir escada mesmo sem degraus. Seremos estranhos em nossa residência. Observaremos cada detalhe com pavor e desconhecimento, com dúvida e preocupação. Seremos arquitetos, decoradores, engenheiros frustrados. Como não previmos que os pais adoecem e precisariam da gente? Nos arrependeremos dos sofás, das estátuas e do acesso caracol, nos arrependeremos de cada obstáculo e tapete.

E feliz do filho que é pai de seu pai antes da morte, e triste do filho que aparece somente no enterro e não se despede um pouco por dia. Meu amigo José Klein acompanhou o pai até seus derradeiros minutos. No hospital, a enfermeira fazia a manobra da cama para a maca, buscando repor os lençóis, quando Zé gritou de sua cadeira:
— Deixa que eu ajudo.
Reuniu suas forças e pegou pela primeira vez seu pai no colo.
Colocou o rosto de seu pai contra seu peito.
Ajeitou em seus ombros o pai consumido pelo câncer: pequeno, enrugado, frágil, tremendo.
Ficou segurando um bom tempo, um tempo equivalente à sua infância, um tempo equivalente à sua adolescência, um bom tempo, um tempo interminável.
Embalou o pai de um lado para o outro.
Aninhou o pai.
Acalmou o pai.
E apenas dizia, sussurrado:
— Estou aqui, estou aqui, pai!
O que um pai quer apenas ouvir no fim de sua vida é que seu filho está ali.

Dependência de drogas: o problema é a gaiola







































Um o experimento científico derrubou o mito segundo a qual substâncias psicoativas são por natureza nocivas e viciantes.

Por Cauê Seignermartin Ameni

Ao estampar em sua capa, na última quinta-feira (16/1), a imagem de uma paciente do novo programa para usuários de drogas de S.Paulo fumando crack após o trabalho, a Folha de S.Paulo praticou um atentado à privacidade da pessoa em tratamento médico, desencadeando crise de choro e revolta. E foi além. Na tentativa de “demonstrar” uma tese conservadora (a de que as terapias humanizadas são ineficazes para dependentes de drogas), ele ignorou um experimento científico realizado há mais de trinta anos. Já no final da década de 1970, o psicólogo canadense Bruce Alexander demonstrou que a socialização é, claramente, o melhor caminho (se não o único) para enfrentar a dependência química. 

Sua pesquisa, que passou a influenciar profissionais de saúde em todo o mundo. O fato de prevalecer até hoje, entre os velhos jornais brasileiros, a velha crença em métodos de punição e encarceramento só demonstra o atraso destas publicações.

Alexander, que trabalhava na Universidade Simon Fraser, questionou o pensamento predominante em sua época, segundo o qual as substâncias psicoativas produziam dependência, por sua natureza – e por isso deveriam ser proibidas. Para tanto, precisou enfrentar um problema. Em favor da crença comumente aceita, havia dezenas de experimentos “científicos”, geralmente realizados com ratos, e sempre com resultados semelhantes. “Demonstravam” que, uma vez em contato com drogas, os animais tornavam-se incapazes de viver sem elas.

O psicólogo canadense observou, porém, que talvez a causa destes resultados recorrentes não estivesse na correção da hipótese que eles supostamente “comprovavam” — mas num erro metodológico comum a todos os experimentos. Em todo os casos, os ratos testados eram confinados em gaiolas. Tinham um canudo implantado cirurgicamente no sistema circulatório. Eram treinados a movimentar uma alavanca e receber, diretamente no sangue, doses de morfina, heroína ou cocaína. Ao final de algum tempo, preferiam a droga aos alimentos ou à própria água, sendo levados à morte. “Concluía-se cientificamente” que as substâncias eram nocivas e altamente perigosas, e deveriam ser proibidas para humanos. As pesquisas foram um poderoso reforço ao proibicionismo e, mais tarde, à chamada “Guerra contra drogas”, em curso até hoje.

Bruce Alexander resolveu testar outra hipótese. Ao invés confinar os ratos em gaiolas minúsculas e solitárias, construiu para eles um parque 200 vezes maior com túneis, perfumes, cores. Mais importante, colocou outros ratos para interação. A experiência ficara conhecida como Rat Park – algo como Ratolândia em português. Para completar a “festa”, os roedores tinham acesso a duas fontes jorrando, incessantemente, água e morfina. Nestas novas condições, que reproduzem muito melhor a vida real, os resultados foram impressionantes. Percebeu-se, entre outros fatos, que os ratos livres consumiam 19 vezes menos psicoativos que seus iguais enjaulados.

Hoje, com avanço da ciência, há um maior entendimento sobre o funcionamento químico cerebral. O jornalista Denis Russo Burgierman, autor do livro O Fim da Guerra, explica como se dá essa relação: ”O centro da questão é um químico chamado dopamina, o principal neurotransmissor do nosso sistema de recompensa. Quando animais sociais ficam isolados e sem estímulos, seus cérebros secam de dopamina. Resultado: um apetite enorme e insaciável pela substância. Drogas – todas elas – têm o poder de aumentar os níveis de dopamina no cérebro, aliviando essa fissura. O nome disso é dependência. Ou seja, não é a droga que causa dependência – é a combinação da droga com uma predisposição. E o único jeito de curar dependência é curar essa predisposição: dando a esse sujeito uma vida melhor, como Bruce Alexander fez com os ratinhos do Rat Park.”

O paralelo com a situação brasileira é evidente. As políticas tradicionais tratam o usuário de drogas como pária a ser afastado do convívio social. Esta posição é radicalizada por autoridades e profissionais de saúde mais conservadores — para quem é preciso internar de forma compulsória os dependentes. Em contrapartida, a nova atitude adotada em São Paulo oferece a eles alojamento digno e ocupação e volta ao convívio social.

Por que são tão fortes e persistentes as teorias retrógradas, mesmo quando descoladas totalmente da realidade? O neurocientista Carl Hart, professor neurocientista da Columbia University, entrevistado recentemente pela New York Times respondeu a essa questão: “Oitenta a 90 por cento das pessoas não são afetadas negativamente pelo uso de drogas, mas, na literatura científica, quase 100 por cento dos relatórios são negativos. Há um foco distorcido em patologia. Nós, os cientistas, sabemos que teremos mais dinheiro, se continuarmos dizendo ao governo que vamos resolver este terrível problema. Temos um papel desonroso na guerra contra as drogas”. Bruce Alexnder e Carl Hart são duas incômodas exceções. Enquanto ao resto, a industria farmacêutica e bélica agradecem o proibicionismo.

Bom, embora o post seja interessante e talvez, a ciência funciona somente se o experimento puder ser repetido. O estudo foi publicado por volta de 1980-até agora, ninguém tentou repetir o experimento? Bem improvável.

Achei um artigo sobre o assunto:
http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/9148292?dopt=Abstract. Reproduzo uma parte do resumo (traduzido) aqui:

O papel do ambiente no consumo de morfina açucarada em ratos de laboratório foi investigado em dois estudos. Os resultados de um estudo anterior, indicando que os ratos que estão numa colônia quase-natural bebiam menos morfina açucarada que ratos isolados em grades de laboratório, não pôde ser replicado, pois o consumo pelos animais isolados nos dois presentes estudos foi reduzido(…)

Quando pesquisei também sobre o assunto, vi que não era “morfina” apenas, e sim “morfina adoçada”, pois os ratos, assim como os humanos, costumam preferir coisas doces e a morfina NÃO é agradável ao paladar deles. Já foi provado também que o experimento original tinha erros. Ele serviu de base para outras tentativas, que hoje mostram que um ambiente melhor auxilia no tratamento de várias doenças degenerativas como Parkinson, Alzheimer, e no tratamento de pessoas com dependência…

O texto está pobre em um ponto. O argumento central está fundamentado na premissa de que toda e qualquer internação necessariamente significa confinamento solitário.
Este tipo de internação é cada vez menos utilizada, aceita, e reconhecida. Qualquer pessoa envolvida com recuperação NÃO recomenda isto, e a maioria inclusive afirma que isto é retrocesso.
Grande parte de quem trabalha com recuperação busca e fomenta meios de “reinserção” social, inclusive e principalmente durante o próprio tratamento (seja ele em internação fechada, semi-aberta ou aberta).

Se há uma nova onda de internação com caráter de confinação decorrente destas políticas ridículas que andam circulando nas câmaras de vereadores, eu não tenho conhecimento. Caso exista isto deve ser combatido de todas as formas possíveis. Internação com confinamento não é tratamento.

Sempre defendi a visão de que a “questão das drogas” como um problema social central da nossa sociedade e daí a guerra ás drogas, é basicamente uma cortina de fumaça, que encobre os reais problemas psicossociais. Isto é, a pobreza, o isolamento, o desrespeito e a falta de dignidade com que grande parte da nossa sociedade tem que conviver constantemente.
O experimento traz evidências claras para essa tese.
E também para a tese complementar que é com a socialização, com o respeito e a dignificação dos dependentes que, caso necessário, eles poderão ser recuperados.

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

SÃO SEBASTIÃO PROTEGE O RIO DE JANEIRO

Conta a história que foi graças a uma aparição milagrosa se São Sebastião que os portugueses, chefiados por Estácio de Sá, venceram os Franceses e Tamoios em 1567 em um combate pela libertação da Cidade do Rio Janeiro. 

Estácio combateu os franceses durante mais dois anos. Até que no dia 20 de janeiro (dia de São Sebastião) de 1567, ajudado por um reforço enviado do céu, ele impôs uma derrota às forças francesas e expulsou-as do Brasil.

Conta a história, que os projéteis dos franceses que atingiram os peitos nus dos homens de Estácio, não causaram nenhum dano físico, como se eles estivessem de armadura.

É recorrente também a afirmação de que as feridas das flechadas contra os cristãos rapidamente saravam, o que era tido por milagre de São Sebastião, segundo Manuel de Menezes e Simão de Vasconcellos.

O milagre por excelência, narrado por diversos cronistas, foi a aparição de São Sebastião, como um desconhecido “soldado”, de notável postura e beleza, saltando de canoa em canoa e assustando os inimigos, segundo o que teriam afirmado os próprios tamoios e franceses, após fugirem e desarranjarem uma cruel e desigual arapuca de canoas contra a cidade do Rio de Janeiro.

Os povoadores, atribuindo o fato a um milagre, acorreram à Capela de São Sebastião, rendendo-lhe graças pela salvação de suas vidas.

Nascia desse modo a devoção ao santo, atribuída a vitória contra os Tamoios, graças à aparição de um jovem guerreiro vestido com armadura, durante o combate, passando de uma para outra canoa portuguesa, causando pânico ao inimigo. Nasce também a tradição, conservada por séculos, de simular combates de canoas nas águas da baía de Guanabara, como comemoração pelo Dia do Padroeiro.

De acordo com os editais do fim do século XVIII e início do XIX, preservados no códice 16-4-21 do Arquivo Geral da Cidade, os habitantes deviam ornar suas portas com luminárias nas três noites antecedentes ao dia do “Glorioso Mártir”, sob o risco de serem multados, no que variou de 3$000 a 6$000 réis, entre 1799 e 1808. Além, é claro, dos 30 dias de cadeia, previstos e publicados em todos os editais consultados (AGCRJ, Cód. 16-4-21).

SÃO SEBASTIÃO, PROTETOR CONTRA A PESTE

São Sebastião morreu mártir em Roma no começo da perseguição de Diocleciano. Seu sepulcro, na via Ápia, junto das catacumbas, isto em 287, já era venerado pelos fiéis desde a mais remota antiguidade.

Posteriormente, em 680, as relíquias foram transportadas solenemente para uma basílica, construída por Constantino. Naquela ocasião grassava uma peste em Roma, que vitimou muita gente. A terrível epidemia desapareceu na hora daquela transladação, e esta é a razão porque os cristãos veneram em São Sebastião o grande padroeiro contra a peste. 

Em outras ocasiões se verificou o mesmo fato; assim no ano de 1575 em Milão, e em 1599 em Lisboa, ficando estas duas cidades livres da peste pela intercessão do glorioso mártir São Sebastião.

ORAÇÃO DE SÃO SEBASTIÃO MÁRTIR

Glorioso mártir São Sebastião, soldado de Cristo e exemplo de cristão, hoje vimos pedir a vossa intercessão junto ao trono do Senhor Jesus, nosso Salvador, por Quem destes a vida. 

Vós que vivestes a fé e perseverastes até o fim, pedi a Jesus por nós para que sejamos testemunhas do amor de Deus. 

Vós que esperastes com firmeza nas palavras de Jesus, pedi-Lhe por nós, para que aumente a nossa esperança na ressurreição. 

Vós que vivestes a caridade para com os irmãos, pedi a Jesus para que aumente o nosso amor para com todos. 

Enfim, glorioso mártir São Sebastião, protegei-nos contra a peste, a fome e a guerra; defendei as nossas plantações e os nossos rebanhos, que são dons de Deus para o nosso bem e para o bem de todos. 

E defendei-nos do pecado, que é o maior de todos os males. 

Assim seja.

sábado, 4 de janeiro de 2014

A VIDA NÃO DESISTE

Numa dessas frescas manhãs de verão, quando desci para apanhar o jornal, fiel companheiro matinal, minha vista foi assaltada por o mar dourado que invadia a rua. O sol gigante amarelo nascia no horizonte. O céu se vestia de um cintilante lilás avermelhado, que pintor algum poderia reproduzir. Então tudo em volta estava dourado: ruas, árvores, casas, a igreja da Imaculada, até o negro asfalto minorou a sua brandura para sorrir com o amanhecer. Foi aí que eu a vi. Da minúscula rachadura do piso de cimento, brotou uma flor. Não tinha 10 cm, nem folhas, apenas quatro pétalas rochas.

Nesse mesmo momento nascia Janaina, na maternidade do Hospital Nossa Senhora das graças. Um quilo e seiscentas gramas. Parto natural, embora prematuro, nascera com saúde, embora miudinha, a mãe - Dona Josení - tinha bastante leite e nem uma roupa, para dar ao bebê. Na hora de preencher o formulário de baixa na maternidade o campo de endereço ficou vazio, pois a enfermeira teve muita dificuldade em assimilar o fato de que assim que tivessem alta do hospital, a pequena Janaina e sua mãe voltariam para debaixo da ponte.

A vida não desiste. Da minúscula rachadura no concreto do estacionamento brota uma flor, sem se importar se nesse mesmo dia um motorista passará com o carro por cima. Janaina nasceu no hospital, mas poderia ter sido debaixo da ponte, onde sua família espera por ela. Sem perguntar se terá um amanhã.

Entre Canoas e Porto Alegre há um conjunto de pontes, onde cruza a BR 116, o metro e mais as avenidas locais. Milhares de veículos e pessoas transitam sobre essas pontes diariamente. A vista do Rio Gravataí é desoladora, basta ficar uma semana sem chover para o rio se tornar preto como um pinche. Já está praticamente impossível navegar de tanto o lixo no leito e na superfície. Isso para não falar no mau cheiro.

A realidade supera a imaginação: aqui bem pertinho tem uma ponte, onde mora gente. Depois que conseguimos assimilar essa dose alopática, começamos a visitar a ponte. Conhecemos lá gente no mínimo interessante. Gente muito forte, que aguenta muito mais do que nós poderíamos suportar. Gente como o Cristiano, pai da Janaina, que chegou de Florianópolis, com a esposa grávida e dois filhos.

Em Florianópolis vendia milho na praia, no inverno, para não passar fome, vendia pedra. O que um pai não faz para dar de comer aos filhos? Coisas que não entendemos, ou porque não somos pais, ou porque nunca passamos fome. Como tinha muita briga de quadrilha e o medo era grande, resolveram abandonar tudo e fugir. De carona em carona chegaram a Canoas, depois de três dias no abrigo público que é o máximo que prefeitura oferece, a ponte foi à alternativa.

"Por pouco tempo ainda", diz o Cristiano, com a carrocinha que ganhou da Igreja, ta catando papel, e com a ajuda de Deus, quando Dona Joseni vier, com a Janaina para casa, eles já estarão "bem acomodados" num barraco encima do dique, porque a "vida não desiste"!

BENDITA HORA DA FAXINA

Regina Céli Furlanetto
Por quase 10 anos morei num minúsculo apartamento que só me deu alegrias!

Eram quatro pequeninos cômodos, os quais eu limpava um por dia, considerando que ainda trabalhava, fazia faculdade e ainda encontrava retalhos de tempo para o que mais quisesse ou necessitasse fazer.

Tinha o hábito de fazer a faxina ouvindo música.

Depois de algum tempo, percebi que quando eu estava "muito bem emocionalmente", eu escolhia músicas mais alegres e mais agitadas, dançava enquanto cumpria o ritual da limpeza, que era feita com uma rapidez incrível e nos mínimos detalhes. Depois, quando saía de casa, ao retornar era surpreendida, na porta, pelo "perfume da limpeza", pelo brilho, pela arrumação das coisas e não me cansava de me dar os parabéns!

Ao contrário, quando eu não estava "lá essas coisas" (somos humanos!), escolhia músicas bem mais calmas, até melancólicas, e nem me dava conta quando passava de uma faixa para a outra. A limpeza, então, além de tapeada, arrastava-se por muito mais tempo. Sem contar que, depois de retornar da rua, ao abrir a porta, não tinha um cheiro acolhedor, doíam-me as costas e só enxergava o que não tinha feito.

Um dia, estava triste, chateada aparentemente sem motivo, e o dia "prometia" ser uma longa espera por outro dia. Decidi, então, usar a experiência da faxina ao contrário: com muita resistência e zero de vontade escolhi as músicas que não queria ouvir; preparei com esmero o "arsenal para a faxina dos dias felizes" e, literalmente, "me mandei" limpar com a fúria das patroas insensíveis. 

Que santo remédio! Se das outras vezes a minha atitude dependia do meu humor, desta, foi o meu humor que mudou 180º por causa da minha atitude. Razão tinha minha avó: "não há mal que um balde, sabão, um pano e um rodo não curem"!

Brincadeira e sabedoria dos avós à parte, hoje, o que tive vontade de partilhar com vocês nessa experiência, é que 99% de nossos males sofridos começam em nosso interior, não vêm de fora. Conheça-se mais, mesmo que para isso precise pagar anos de terapia; ler muitos livros; abrir-se com alguém; enfrente seus demônios; tenha atitude; imponha-se atitudes; permita-se mudanças e busque ser melhor, mesmo quando tudo lá dentro pede e insiste para que não seja importunado! 

Essa guinada não é presunção; é humano pedindo evolução!

Porto Alegre, Janeiro de 2014.

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