Gerente Regional de Comunicação no Walmart Brasil
A co-dependência contamina aqueles que não
sabem usar o "não" na hora certa. "É doído. Às vezes passamos
por malvados, mas é necessário", conta Maria Rosária, também
voluntária do grupo Betânia, da Restinga. A co-dependência nos afeta e afeta principalmente
os familiares dos dependentes químicos. Co-dependente é alguém que
acredita ser responsável pela felicidade alheia, mas que pouco cuida da
sua. Diz muitos "sim" na intenção de demonstrar seu amor e
seu afeto, mas esquece que, evitando o "não", deixa de
ajudar na cura da pessoa que ama.
O livro Co-dependência Nunca
Mais, da jornalista norte-americana Melody Beattie, explica um
pouco das razões que nos levam a evitar o "não". "Não fazemos
isso de propósito. Fazemos isso porque aprendemos a comunicarmo-nos desta
forma. Em alguma época, talvez em nossa infância ou na família adulta,
aprendemos que não devemos conversar sobre problemas, expressar emoções e
opiniões. Aprendemos que não se deve dizer exatamente o que se quer e
deseja. Era definitivamente errado dizer 'não', e defendermos algo por
nós mesmos. Um pai ou cônjuge alcoólico ficará feliz em ensinar essas
regras; nós estávamos prontos a aprendê-las e aceitá-las."
Mais do que explicar como aprendemos
que não devemos dizer "não", o livro de Beattienos indica o
provável professor. Já ouvimos casos em que pessoas que conviveram com
dependentes químicos -- e foram co-dependentes, por conseqüência --
aprenderam a conviver dizendo "sim" a todo instante e repetem este
padrão na vida adulta, com o esposo(a) ou filho drogado.
O "não" bem colocado cria
limites. O bebê e a criança precisam de muitos "não" para aprenderem
até onde podem ir. "Não pegue o lápis do coleguinha porque este
lápis não é seu", deve dizer um pai. A criança aprenderá o seu limite e
entenderá as razões que o levam a obedecê-lo. Na vida adulta, nos deparamos com
"Não estacione", "Não ultrapasse a faixa", "Não
buzine", "Não beba antes de dirigir". Se ignoramos estas
regras, somos punidos.
O dependente químico perde essa
noção, a noção da transgressão. Para ele, tudo pode em favor da
droga. Os seus responsáveis precisam usar o "não"
para restabelecer os limites na vida do dependente químico. O
"não" do pai ou do(a) esposo(a) é uma forma de disciplina. O
"sim", ao contrário, é como dizer "faça tudo de novo".
Mas o "não" precisa ser
dito com consciência e sabendo onde se quer chegar. Por isso, antes do
"não" é importante que o responsável pelo dependente químico saiba
que irá gerar uma crise com o seu "não". (Nunca ouviu falar de Crise?
E antes de gerar uma Crise, procure um Grupo de Apoio do Amor-Exigente e
prepare-se para enfrentar este problema que pode trazer um final muito feliz.
E o mais importante, o
"não", embora não pareça, é uma forma de amor, de afeto. Você já
ouviu as frases "quem ama, cuida" ou "quem ama, educa"?
Pois é. Cuidar e amar no campo da dependência química é dizer
"não".
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