quarta-feira, 8 de outubro de 2014

A EPIDEMIA DO SÉCULO

por

Juliano Filipe Rigatti

Gerente Regional de Comunicação no Walmart Brasil

A co-dependência contamina aqueles que não sabem usar o "não" na hora certa. "É doído. Às vezes passamos por malvados, mas é necessário", conta Maria Rosária, também voluntária do grupo Betânia, da Restinga. A co-dependência nos afeta e afeta principalmente os familiares dos dependentes químicos. Co-dependente é alguém que acredita ser responsável pela felicidade alheia, mas que pouco cuida da sua. Diz muitos "sim" na intenção de demonstrar seu amor e seu afeto, mas esquece que, evitando o "não", deixa de ajudar na cura da pessoa que ama.
O livro Co-dependência Nunca Mais, da jornalista norte-americana Melody Beattie, explica um pouco das razões que nos levam a evitar o "não". "Não fazemos isso de propósito. Fazemos isso porque aprendemos a comunicarmo-nos desta forma. Em alguma época, talvez em nossa infância ou na família adulta, aprendemos que não devemos conversar sobre problemas, expressar emoções e opiniões. Aprendemos que não se deve dizer exatamente o que se quer e deseja. Era definitivamente errado dizer 'não', e defendermos algo por nós mesmos. Um pai ou cônjuge alcoólico ficará feliz em ensinar essas regras; nós estávamos prontos a aprendê-las e aceitá-las."
Mais do que explicar como aprendemos que não devemos dizer "não", o livro de Beattienos indica o provável professor. Já ouvimos casos em que pessoas que conviveram com dependentes químicos -- e foram co-dependentes, por conseqüência -- aprenderam a conviver dizendo "sim" a todo instante e repetem este padrão na vida adulta, com o esposo(a) ou filho drogado.
O "não" bem colocado cria limites. O bebê e a criança precisam de muitos "não" para aprenderem até onde podem ir. "Não pegue o lápis do coleguinha porque este lápis não é seu", deve dizer um pai. A criança aprenderá o seu limite e entenderá as razões que o levam a obedecê-lo. Na vida adulta, nos deparamos com "Não estacione", "Não ultrapasse a faixa", "Não buzine", "Não beba antes de dirigir". Se ignoramos estas regras, somos punidos.
O dependente químico perde essa noção, a noção da transgressão. Para ele, tudo pode em favor da droga. Os seus responsáveis precisam usar o "não" para restabelecer os limites na vida do dependente químico. O "não" do pai ou do(a) esposo(a) é uma forma de disciplina. O "sim", ao contrário, é como dizer "faça tudo de novo".
Mas o "não" precisa ser dito com consciência e sabendo onde se quer chegar. Por isso, antes do "não" é importante que o responsável pelo dependente químico saiba que irá gerar uma crise com o seu "não". (Nunca ouviu falar de Crise? E antes de gerar uma Criseprocure um Grupo de Apoio do Amor-Exigente e prepare-se para enfrentar este problema que pode trazer um final muito feliz.

E o mais importante, o "não", embora não pareça, é uma forma de amor, de afeto. Você já ouviu as frases "quem ama, cuida" ou "quem ama, educa"? Pois é. Cuidar e amar no campo da dependência química é dizer "não".

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