sábado, 16 de novembro de 2013

Dependência Química & Espiritualidade

A dependência química é uma disfunção bio-psicossocial, espiritual. A dimensão espiritual deve entrar como parte integrante do tratamento. Algumas abordagens, que esclarecem a entrada dessa dimensão, seriam as utilizadas , sem a menor dúvida, nos grupos de ajuda mútua, os grupos anônimos.

Muitas comunidades terapêuticas usam muito essa dimensão espiritual como fundamento para modificações de valores e motivação para mudanças. O modelo Minnesota  que veio para o Brasil no início da década de 80, também integra a dimensão espiritual no seu tratamento, que envolve um complexo bio-psicossocial. Posso afirmar que há uma relação muito íntima da espiritualidade com o tratamento da dependência química. 

A busca de uma espiritualidade já existia antes de se tornarem dependentes químicos. Quando a disfunção se instala, tudo é esquecido.

Há a perda dos valores originais ao se desenvolver a dependência e o mais importante neste momento é conseguir a droga. Quando digo droga, refiro-me ao álcool e outra qualquer substância que a pessoa usa, levando-a a viver em função dela. Os valores vão mudando, para se adequar a este novo foco. A pessoa que tinha como objetivo ser um bom profissional , começa a decair e acha vários motivos para justificar o que era antes da droga, intelectualizando seu comportamento. O fato é que os valores vão sendo distorcidos. Valores que tinham a ver com espiritualidade, solidariedade, humildade , honestidade, tornam-se intoxicados pelas drogas.

Em geral, as drogas, dependendo da idade, vão se modificando e no caso da terceira idade entra o álcool e muitos medicamentos. Há os casos de dependentes de tranquilizantes para dormir e, como a vaidade continua , há também os medicamentos para emagrecer. É difícil dizer se é melhor ou pior para ser tratado, pois observa-se o argumento sempre usado – “se cheguei até aqui, por que vou mudar?”. Argumentam com história de vida e tentam provar que têm consciência da situação. Já o jovem não tem ainda um passado, julgam não ter nada a perder, ainda não construíram uma vida. Nota-se que a motivação para uma mudança vem do sentimento de perda.

Quanto mais o tempo passa, percebo que a maioria dos fenômenos existenciais são muito complexos. É muito difícil afirmar se isso é bio ou se é psico, como se fossem separados. Nota-se que nesse campo há componentes genéticos, contudo não se pode saber o peso de cada um. Varia de indivíduo para indivíduo e, provavelmente, quanto mais se tem um ambiente propício para o uso da droga, menos disposição genética precisa-se para que se desenvolva aquela disposição.

Gostaria de estudar mais casos que possam mostrar, como por exemplo, uma pessoa que vive num ambiente carente de tudo, hostil, muita droga e com pouca perspectiva de futuro, pode escapar da dependência.

Por outro lado, sabe-se de casos de pessoa que tem uma família presente, com diálogo, boa escola e mesmo assim verifica-se o desenvolvimento de uma dependência química. O ser humano é uma surpresa. 

Quando a espiritualidade é abordada no tratamento, separa-se da religião e mostra-se que a espiritualidade pode ser vivida, mesmo que a pessoa não pertença a uma determinada religião. Um exemplo que ilustra bem a situação é a seguinte: - uma pessoa que viva muito isolada, sem namoro, sem amigos ou sem se relacionar com os pais, pode ter uma espiritualidade revelada numa simples relação que tenha, por exemplo, com um bicho amigo, um gato, um cachorro,etc. Nesse tipo de relacionamento, pode-se vivenciar valores que desenvolvam a identificação com uma espiritualidade. Trata-se de uma fonte onde se pode estudar uma série de fatos, como verificar pessoas que perderam muita coisa, estão abrutalhadas, perderam a esperança, não acreditam em mais nada. Contudo, pode-se descobrir numa simples relação, seja qual for, indicadores de uma espiritualidade expressiva.

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