Tudo começa com uma pergunta que brota do
mais profundo da nossa angústia: “Que devo fazer para receber a vida? Como devo
viver para viver de verdade, para que minha vida valha a pena?” Apesar de um
mundo que procura nos distrair dessa pergunta, não há como sufocá-la, como
fazer de conta que ela não perturba nosso coração! Onde está a felicidade
duradoura? Onde está à vida, a realização da existência? Que caminho seguir,
para ser feliz de verdade?
Jesus indica o caminho: “O que está escrito?
Como lês?” – Aqui, há algo importantíssimo. Uma coisa ele quer deixar clara: a
vida não está no homem, mas na vontade de Deus! O homem somente será feliz,
somente encontrará a vida se procurar lealmente a vontade de Deus. Perder de
vista o projeto de Deus para nós, é perder de vista o sentido da própria vida! E
este é o drama do mundo atual, que se julga independente de Deus.
Ao invés, Jesus nos força a abrir o coração
para o Alto: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e com toda a tua
alma, com toda a tua força e com toda a tua inteligência”. Esta abertura para
Deus dilata e realiza o coração humano, que foi criado para dar e receber amor,
amor na relação com Deus, que desemboca, generoso, no amor em relação aos
outros: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo”. – “Faze isto e viverás!”
A abertura para Deus nos faz crescer, nos faz
superar nossos limites, nos lançar em relação a Deus e nos compromete com o
próximo! “Quem é o meu próximo?” – A resposta de Jesus é clara: nosso próximo
são aqueles que a vida fez próximos de nós.
O próximo tem rosto, tem nome, tem problemas
e, às vezes, nos incomoda, nos atrapalha, nos desafia, nos causa raiva e
contradição. É a este próximo, concreto como uma rocha, que eu devo amar! Mas,
atenção: um judeu deve amar o próximo como a si mesmo: é isto que está escrito
na Lei. Um cristão, não! Ele deve amar o próximo como Jesus: Amai-vos uns aos
outros como eu vos amei.
Cristo
não viu nossa miséria de longe, não nos amou à distância: desceu e veio viver a
nossa vida, fazendo-se Deus-conosco! Por isso, ele é o verdadeiro Bom
Samaritano, o verdadeiro modelo daquele que "se faz próximo". Ele se
compadeceu de nós, desceu à nossa miséria, fez-se homem, para nos curar e
elevar. Nele, se revela a plenitude do amor a Deus.
E quem é o meu próximo? O mestre da Lei quer
saber quais são os limites do amor. Jesus fala que não tem limites. Todos que
encontrarmos em situação de necessidade, são nossos próximos.
Dos três viajantes que, no caminho, se
encontraram com o ferido, os dois primeiros são membros ativos e líderes da
religião: o sacerdote, e o levita que tinha uma função parecida com os nossos
líderes cristãos. Com isso, Jesus deixa claro que o que vale para entrar no céu
não são títulos ou cargos importantes na Igreja, mas a prática da caridade.
Já o amor do samaritano foi bonito:
espontâneo, desinteressado, generoso, terno, serviçal, eficaz e gratuito.
Após terminar a parábola, Jesus devolve a
segunda pergunta ao seu interlocutor, mas a inverte. Ele não focaliza o
destinatário (quem é o meu próximo?), e sim o seu sujeito: “Qual dos três foi o
próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” E o mestre da Lei
respondeu corretamente, usando inclusive uma expressão bíblica: “Foi aquele que
usou de misericórdia para com ele”.
A conclusão de Jesus – “Vai e faze a mesma
coisa” – é dirigida a todos nós. A pergunta correta que devemos nos fazer hoje
é: “Quem espera ajuda de mim?” Vemos que o amor não tem limites, pois ele parte
das necessidades do outro.
O sacerdote e o levita viram o ferido, mas
seguiram adiante pelo outro lado do caminho. Eles se colocaram propositalmente
à distância do necessitado. Corresponde um pouco aos nossos condomínios
fechados, muros altos, vidros fumê nos carros... são estratégias atuais de
seguir em frente pelo outro lado. Já quem ama faz o contrário: quer estar no
meio dos necessitados.
Certa vez, numa grande região, faltou chuva e
a colheita foi pobre. Entretanto, uma grande fazenda, que tinha irrigação
artificial, teve uma colheita abundante. O administrador encheu os celeiros,
depois disse para o dono da fazenda: “A colheita ruim aumentou o preço dos
cereais. Agora é o tempo propício para vender e ganhar muito dinheiro”. O
fazendeiro respondeu: “Eu penso nos pobres lavradores que não colheram nada e
estão com as suas despensas vazias. Agora é tempo propício para dar”.
O amor é assim, frequentemente ele inverte o pensamento
cego dos gananciosos. É próprio das mães perceber as necessidades dos filhos e
colocar-se ao lado deles. Vamos pedir à nossa querida Mãe Maria Santíssima que
nos ajude a ser bons samaritanos, socorrendo o nosso próximo em suas
necessidades, e assim “recebendo como herança a vida eterna” Mãe do amor, rogai
por nós.
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