José de
Anchieta nasceu na Espanha, 1534. Adolescente, foi estudar na cidade de
Coimbra, em Portugal. Ali, distinguiu-se por sua disciplina e vida de virtudes.
Com apenas 16 anos, ingressou na recém-fundada Companhia de Jesus, onde
desenvolveu uma piedade eucarística extraordinária, participando de cinco Missas
por dia – e adorando o Senhor na hóstia consagrada.
Por conta de um problema de
coluna, teve medo de que jamais poderia ser jesuíta. Nesse momento, padre
Manuel da Nóbrega, que já estava no Brasil, chamava os membros da Companhia
para cá, principalmente os doentes, pois dizia que o clima daqui faria que se
recuperassem logo. José de Anchieta ainda noviço, veio para o Brasil, por uma
questão de saúde. Mas, já na viagem, foi obtendo melhora, ao cuidar de seus
companheiros de tripulação que ficavam enjoados por causa do mar.
Ao chegar ao Brasil, os
jesuítas queriam realmente educar os índios. Mas quando os padres chegavam nas
aldeias, enfrentavam certa resistência dos povos nativos. Para evangelizar os
índios Pe. Anchieta compôs canções sobre os mistérios sagrados em língua tupi,
e para evangelizar os colonizadores, escreveu peças de teatro, desenvolvendo
uma belíssima obra literária.
Em 3 anos apenas,
aprendeu tão bem a língua tupi que escreveu uma gramática. A catequese que dava
às crianças era tão eficaz, que elas começavam a fiscalizar os seus pais para
que eles não pecassem: desenvolveu-se nas tribos indígenas uma verdadeira
“infância missionária".
Tendo composto uma peça
teatral, decidiu encená-la ao ar livre, para que o maior número de pessoas
possível pudesse assistir-lhe. No entanto, uma imensa tempestade começou a
aparecer no horizonte e todos, com medo, queriam ir embora. Anchieta, vendo
nisto a ação do demônio, que queria ver as almas privadas dessa recreação
piedosa, disse: “Não precisam ir embora, não vai chover". E, realmente, por
todo o tempo da apresentação não choveu.
José de
Anchieta, bem como o padre Manuel da Nóbrega, são os fundadores das cidades de
São Paulo e Rio de Janeiro.
Logo ao chegar ao Brasil,
os dois empreenderam sua primeira viagem, a fim de criar um colégio, e, no dia
25 de janeiro, foi celebrada a primeira Missa na região que hoje é a cidade de
São Paulo.
São
Paulo nasceu em grande virtude. Toda a gente acordava já bem cedo, as crianças
punham-se a rezar o rosário e os adultos assistiam ao Santo Sacrifício – as
mulheres de um lado, os homens de outro. Aqueles que já eram batizados e podiam comungar davam um
nobre exemplo de devoção eucarística. Quando algum índio pagão aparecia-lhes
propondo algum pecado, eles respondiam, com convicção: “Não fazemos isso,
porque somos homens de comunhão".
Em voto a
Nossa Senhora, prometeu que contaria a sua vida em versos. Por isso Anchieta é retratado
escrevendo nas areias do mar. Foi aí que ele compôs 5786 versos em honra à Mãe
de Deus, antes de passá-los ao papel.
Algum tempo depois, na
Bahia, José de Anchieta, já com 32 anos, foi finalmente ordenado sacerdote.
Em suas andanças pelos
“Brasis", Anchieta não só fazia incursões continente adentro, como
visitava as aldeias já evangelizadas, para que fossem confirmadas na fé. Sempre
descalço, com sua batina surrada, um rosário no pescoço e um crucifixo na mão,
o incansável apóstolo atravessava vastas porções de terra. Os seus pés, de tão
castigados, deixavam rastros de sangue por onde passavam.
Sua capacidade de mandar
até sobre animais selvagens rendeu-lhe a alcunha de “primeiro Adão". Em
sua própria explicação, “o homem obediente a Deus tem todas as criaturas
subjugadas". Em dada ocasião, as pessoas saíram correndo de uma cobra.
Ele, com toda a calma, tranquilizou-as e disse para a cobra: “Eu já não disse para
você parar de fazer essas maldades?" A cobra, ouvindo isto, foi embora.
Isso acontecia em praticamente todos os lugares pelos quais passava. Anchieta
dominava onças e cobras – tinha “poder para pisar serpentes e escorpiões”, e
causava, com isso, a conversão de inúmeras pessoas.
Mais impressionante que
seu poder com os animais, entretanto, era sua extraordinária capacidade com os
índios. Quando os índios irados se aproximavam para matá-lo, eles imediatamente
se detinham, olhavam para o seu rosto e desistiam de seu intento. Várias vezes,
sertão adentro, índios selvagens se pacificavam tão somente com a sua presença.
Anchieta também ficou
conhecido como grande pregador.
Conta-se
que uma menina havia morrido, deixando seus pais desconsolados. O padre
Anchieta chega, vai até o seu cadáver e diz-lhe: “Minha filha, tu estás
querendo roubar o paraíso facilmente. Volta e luta". Imediatamente, a
menina ressuscita.
Também existe a famosa
história do índio Diego, que todos achavam que era batizado, por guardar os
mandamentos e dizer-se cristão. Mas, após morrer sem o sacramento, durante o
seu enterro, ele se levanta e pede que chamem o padre Anchieta, a fim de ser
batizado. O apóstolo chega, batiza-o e ele morre novamente.
Depois de uma vida
totalmente gasta por causa do Evangelho, padre José de Anchieta morreu na
cidade de Reritiba, Espírito Santo, aos 9 de junho de 1597. Após receber o
viático, seu rosto, então pálido, ficou cheio de vida e ele pôde partir em paz,
invocando os santíssimos nomes de Jesus e Maria. Ao receberem a notícia de sua
morte, os indígenas acordavam, de madrugada, batiam nas portas uns dos outros e
diziam: “Morreu o nosso pai, morreu quem nos amava, morreu aquele que deu a
vida por nós".
Que vida extraordinária!
Que bom saber que o Brasil começou assim, que logo no nascimento de nosso país
um santo tão grande caminhou em nosso no chão de nossa pátria com seus pés
descalços! Pensando nos pés deste missionário, pés que deixavam rastros de
sangue atrás de si, que cruzavam terrenos selvagens, cheios de espinhos, pedras
e areias quentes, é impossível não lembrar a frase do profeta Isaías: “Como são
belos sobre as montanhas os pés do mensageiro que anuncia a paz!"