sábado, 3 de janeiro de 2015

COMUNIDADE TERAPÊUTICA - CT


O programa terapêutico desenvolvido durante o tratamento numa Comunidade Terapêutica, tem como objetivo ajudar o dependente químico a se tornar uma pessoa livre através da mudança de seu estilo de vida. A proposta da CT deve considerar que o dependente químico pode desenvolver–se nas diversas dimensões de um ser humano através de uma comunicação livre entre a equipe e os residentes, em uma organização solidária e igualitária.

A CT é uma ajuda eficaz para quem tem necessidade de liberar as próprias energias vitais para poder ser um HOMEM em seu sentido pleno, adulto e autônomo, capaz de realizar um projeto de vida construtivo, de aprender a estar bem consigo mesmo e com os outros sem a “ajuda” de substâncias psicoativas.

Por definição a CT é um grupo de pessoas que se unem com um objetivo comum e que possui uma forte motivação para provocar mudanças. Este objetivo comum, na maioria das vezes, surge em um momento de crise onde o individuo apresenta uma desestruturação na sua vida em todas as áreas: física, mental, espiritual, social, familiar e profissional. É nesse momento que as pessoas diminuem as defesas, resistências e demonstram maior disponibilidade e abertura a mudanças porque já perdeu tudo. O objetivo da CT é o crescimento das pessoas através de um processo individual e social; é o papel da equipe é ajudar o indivíduo a desenvolver seu potencial.

Para que a equipe seja eficaz é muito importante acreditar, independentemente de qualquer comportamento que o residente tenha tido, que ele pode mudar.

Se não houver essa credibilidade, porque alguns residentes estão mais comprometidos e com maiores dificuldades para mudar, existe o risco de “abandono” desses residentes.

Se a equipe acreditar que todos podem mudar dedicará a atenção que cada um precisa para que a mudança ocorra.

Os profissionais da CT, são participantes do processo e devem saber a respeitar as regras desta para que as relações aconteçam em um ambiente familiar, pois em uma família as pessoas se relacionam enquanto pessoas, não enquanto cargos, profissões. Este conceito interliga todos os setores e as responsabilidades são transferíveis. Por ex: o psicólogo pode assumir a responsabilidade da enfermeira em uma situação de primeiros socorros, assim como, orientar o residente responsável pelo setor de limpeza como deve ser feita a faxina geral da CT.

Nenhum elemento da equipe fica restrito, limitado ao seu cargo, pois em termos de funções existe um leque de responsabilidades. Essa realidade deve estar clara para todos da equipe para que não aconteçam “melindres” ou ingerências nas funções específicas de cada cargo, como por exemplo: o atendimento psicológico que é responsabilidade, unicamente do psicólogo.

O ambiente da CT deve possibilitar a aprendizagem social oferecendo a oportunidade de interagir, escutar, aprender, projetar, envolver-se e crescer de maneira que, normalmente reflita a capacidade e o potencial individual e coletivo das pessoas que dele fazem parte.

Como o
residente ele vem de uma vivência de valores não aceitos pela sociedade, devemos solicitar que ele exercite agir com honestidade, pontualidade, solidariedade, etc., (valores aceitos pela sociedade) para que os internalize e os vivencie através das mudanças de estilo de vida. A dinâmica desse processo depende, em parte, da organização social da CT e da motivação das pessoas envolvidas.

As regras fundamentais são:
-Não DROGA; - Não SEXO; - Não VIOLÊNCIA

Sobre a regra de renunciar, temporariamente as relações sexuais é importante ressaltar que a sexualidade é uma energia de comunicação e a interrupção das relações sexuais estimula o residente a comunicar-se de outras maneiras tendo uma nova forma de aprendizado social.

Permite também desenvolver aquela parte da afetividade que, até agora, permaneceu escondidas e foi negada devido aos preconceitos em função de experiências pessoais.

Além dessa três regras fundamentais são feitas duas solicitações temporárias, para criarmos os pressupostos do trabalho pessoal e social sem jamais desrespeitarmos o direito fundamental à saúde e à liberdade de sair da CT no momento em que a pessoa assim desejar:

- Renunciar a liberdade de sair da CT sem autorização da equipe;
- Respeitar o contrato de autoajuda participando sempre de todas as atividades da CT. O indivíduo em um grupo ou em uma CT que se recusa a colaborar prejudica o bem estar de todos. O indivíduo não deve ser prejudicado em função do grupo ou vice-versa, pois é importante que ele aprenda a entrar em uma relação equilibrada.

As regras devem ser definidas, tanto morais quanto éticas, e elaboradas de acordo com as necessidades da CT. Podem ser discutidas e alteradas, se necessário for, a partir de um consenso da equipe. É importante compreender que as regras existem para serem respeitadas e que sua transgressão leva a conseqüências que devem ser assumidas.

A equipe deve garantir a todo residente o conhecimento e compreensão das regras para poder exigir o cumprimento das mesmas.

Existem cinco áreas para que alguém funcione em um determinado nível de equilíbrio. São elas: família, pares, trabalho, regras e espiritualidade.

O desequilíbrio em uma dessas áreas pode desencadear em uma pessoa algumas relações disfuncionais. Levando isto em consideração, devemos ter presente que o nosso residente, muito provavelmente apresenta desequilíbrio em quase todas essas áreas, o que faz com que ele se relacione de maneira completamente disfuncional consigo mesmo e com os outros.

Para ajudá-lo devemos criar na CT um ambiente aonde ele possa se exercitar (como em uma academia de ginástica aonde exercitamos todo o corpo) e ter a compreensão necessária de que a droga é apenas um sintoma de algo mais profundo que precisa ser trabalhado e que, com certeza, está ligado a estas cinco áreas.

O processo de recuperação está diretamente inter-relacionado ao trabalho a ser desenvolvido nas cinco áreas, pois não podemos trabalhar as questões: família, espiritual e trabalho e desconsiderar as áreas da lei e dos pares e assim sucessivamente.

No ambiente da “ativa”, aonde viviam anteriormente, não existiam condições adequadas para serem pessoas com dignidade. Na CT devemos oferecer aos residentes confidencialidade e um ambiente saudável, onde exista segurança física, psicológica e social, considerando que não é a estrutura física que dá valores e sim as pessoas (residentes e equipe que dela fazem parte).

A funcionalidade dentro da CT (micro sociedade) deve ser muito similar à sociedade de origem para que o indivíduo possa experimentar situações, para poder depois, viver na sociedade. Cada pessoa tem um papel na sociedade, por isso, assim que o indivíduo é aceito como residente na CT, passa a ter um papel em sua estrutura, uma identidade e começa a se familiarizar com hierarquia, autoridade, responsabilidade, pontualidade, etc.

Através da interação individual e do grupo consegue-se grande compreensão da problemática do indivíduo, mas considera-se que a aprendizagem através da experiência (errando, acertando e experimentando as consequências) corresponde à influência mais eficaz para se atingir uma mudança duradoura.

Além das inúmeras possibilidades de aprendizagem social, a estrutura da CT deve estimular a iniciativa do residente objetivando seu crescimento. O comportamento é sempre algo objetivo, observável aonde encontramos os progressos realizados pelo dependente. Na conduta encontramos os frutos e é onde se concretizam os sucessos e as dificuldades do trabalho pessoal do residente nas áreas cognitiva, afetiva e espiritual. A solicitação gradativa de mudança na CT ajuda o residente a se responsabilizar pelo seu próprio processo de crescimento e participar ativamente no processo dos outros residentes e do processo terapêutico da CT.

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