sexta-feira, 28 de setembro de 2012

DEUS TRINDADE

O mundo está cheio de vestígios da grandeza e da sabedoria de Deus. A imensidão do mar, a majestade do firmamento, a beleza das estrelas e das flores, a multiplicidade da vida das plantas e dos animais, e sobretudo a inteligência do homem, que se manifesta nas ciências e nas artes, fazendo dele um vivo reflexo da divindade. 

Mas houve quem observasse como, nesse universo uno e múltiplo, há uma particular insistência no ritmo ternário, que deve ter algum misterioso nexo com o próprio mistério de Deus. 

Assim é que há três dimensões do espaço: comprimento, largura e altura. 

Há três reinos na natureza: mineral, vegetal e animal. 

Há três estados dos corpos: sólido, líquido e gasoso. 

Há três ambientes em que vivem os seres vivos: terra, água e ar. 

Há três etapas do tempo: presente, passado e futuro. 

Há três cores fundamentais: vermelho, azul e amarelo. 

O mais perfeito dos polígonos é o triângulo eqüilátero, que tem três ângulos iguais e três lados iguais. 

Há três pessoas do discurso: eu, tu, ele. 

Há três grandes áreas do trabalho humano: agricultura, indústria e serviços. 

Há os três poderes no governo democrático: legislativo, executivo e judiciário. 

Há três partes de uma redação: introdução, desenvolvimento e conclusão. 

Há três partes de um dissertação: tese, antítese e síntese. 

Há três etapas do método: ver, julgar e agir. 

Sem falar na tendência irresistível de dividir uma obra em três volumes e uma conferência em três partes. 

Para o homem que observa tudo isso e que tem fé, vem espontânea a pergunta: Deus não estará querendo chamar a atenção para algo de seu próprio mistério? 

E, depois que sabemos pela doutrina da Revelação que Deus é uno em três pessoas, não temos dúvida em concluir: Deus deixou no mundo vestígios também da Trindade. 

O universo é um canto infinito ao Deus Uno e Trino. 

E esse canto se torna hoje mais vivo e mais fervoroso pela voz de toda a Igreja, quando o giro do ano litúrgico nos traz a celebração da festa da Santíssima Trindade. 

Como que se intensifica esse louvor que milhões de vozes fazem subir ao céu todos os dias: "Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo". 

Esses nomes divinos nos quais fomos batizados um dia. 

Um só Deus em três pessoas: é o mistério fundamental de nossa fé. 

Somos visceralmente monoteístas, como os israelitas e os muçulmanos: acreditamos que Deus é um só. 

Mas nós cristãos temos um privilégio que eles não têm: sabemos e cremos pela palavra da Escritura, que em Deus há três pessoas. 

Há o Pai, princípio sem princípio; há o Verbo (o Filho), nascido do Pai antes de todos os séculos, no esplendor da eternidade; há o Espírito Santo, que, também desde toda a eternidade, procede do Pai e do Filho. 

Um pouco como no homem - eis aqui um novo vestígio da Trindade - há o pensamento que procede da inteligência, e o amor que procede do coração. 

Santo Tomás de Aquino, seguindo os passos de Santo Agostinho, chamam a atenção para esse maravilhoso vestígio da Trindade. Conta-se que certa vez São Tomás estava na praia... 

Mas, diante do mistério, o que nos cabe é adorar. 

A Igreja, desde os primeiros séculos, na voz de seus Concílios, na reflexão de seus teólogos e na oração de seus místicos - particularmente Santa Teresa - vem ajudando o povo de Deus a se aproximar com reverência do grande mistério, seguindo uma luminosa norma de Santo Agostinho, que, aliás, escreveu um precioso tratado sobre a Trindade: "perscrutar é temeridade; crer é piedade; conhecer será um dia nossa eterna felicidade". 

Dante Alighieri, depois de ter criado com a riqueza de sua fantasia as mais esplêndidas imagens para descrever o Reino dos bem-aventurados, na terceira parte de sua "Divina Comédia", quando chega à contemplação poética da Santíssima Trindade, tem vôos simplesmente sublimes, como o deste terceto: "O luz que vives de teu próprio ardor, - que em ti te sentes e és por ti sentida, - que em ti, e só por ti, és graça e amor". Mesmo esse inigualável poeta não consegue ir muito adiante. E acaba depondo a pena e exclamando: "Da fantasia a força me fugiu". 

O bom é exclamarmos com São Pauto: "O abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! " (Rm. 11,33). Senhor, nós te adoramos!

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