O mundo está cheio de vestígios da grandeza e da sabedoria de Deus. A imensidão do mar, a majestade do firmamento, a beleza das estrelas e das flores, a multiplicidade da vida das plantas e dos animais, e sobretudo a inteligência do homem, que se manifesta nas ciências e nas artes, fazendo dele um vivo reflexo da divindade.
Mas houve quem observasse como, nesse universo uno e múltiplo, há uma particular insistência no ritmo ternário, que deve ter algum misterioso nexo com o próprio mistério de Deus.
Assim é que há três dimensões do espaço: comprimento, largura e altura.
Há três reinos na natureza: mineral, vegetal e animal.
Há três estados dos corpos: sólido, líquido e gasoso.
Há três ambientes em que vivem os seres vivos: terra, água e ar.
Há três etapas do tempo: presente, passado e futuro.
Há três cores fundamentais: vermelho, azul e amarelo.
O mais perfeito dos polígonos é o triângulo eqüilátero, que tem três ângulos iguais e três lados iguais.
Há três pessoas do discurso: eu, tu, ele.
Há três grandes áreas do trabalho humano: agricultura, indústria e serviços.
Há os três poderes no governo democrático: legislativo, executivo e judiciário.
Há três partes de uma redação: introdução, desenvolvimento e conclusão.
Há três partes de um dissertação: tese, antítese e síntese.
Há três etapas do método: ver, julgar e agir.
Sem falar na tendência irresistível de dividir uma obra em três volumes e uma conferência em três partes.
Para o homem que observa tudo isso e que tem fé, vem espontânea a pergunta: Deus não estará querendo chamar a atenção para algo de seu próprio mistério?
E, depois que sabemos pela doutrina da Revelação que Deus é uno em três pessoas, não temos dúvida em concluir: Deus deixou no mundo vestígios também da Trindade.
O universo é um canto infinito ao Deus Uno e Trino.
E esse canto se torna hoje mais vivo e mais fervoroso pela voz de toda a Igreja, quando o giro do ano litúrgico nos traz a celebração da festa da Santíssima Trindade.
Como que se intensifica esse louvor que milhões de vozes fazem subir ao céu todos os dias: "Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo".
Esses nomes divinos nos quais fomos batizados um dia.
Um só Deus em três pessoas: é o mistério fundamental de nossa fé.
Somos visceralmente monoteístas, como os israelitas e os muçulmanos: acreditamos que Deus é um só.
Mas nós cristãos temos um privilégio que eles não têm: sabemos e cremos pela palavra da Escritura, que em Deus há três pessoas.
Há o Pai, princípio sem princípio; há o Verbo (o Filho), nascido do Pai antes de todos os séculos, no esplendor da eternidade; há o Espírito Santo, que, também desde toda a eternidade, procede do Pai e do Filho.
Um pouco como no homem - eis aqui um novo vestígio da Trindade - há o pensamento que procede da inteligência, e o amor que procede do coração.
Santo Tomás de Aquino, seguindo os passos de Santo Agostinho, chamam a atenção para esse maravilhoso vestígio da Trindade. Conta-se que certa vez São Tomás estava na praia...
Mas, diante do mistério, o que nos cabe é adorar.
A Igreja, desde os primeiros séculos, na voz de seus Concílios, na reflexão de seus teólogos e na oração de seus místicos - particularmente Santa Teresa - vem ajudando o povo de Deus a se aproximar com reverência do grande mistério, seguindo uma luminosa norma de Santo Agostinho, que, aliás, escreveu um precioso tratado sobre a Trindade: "perscrutar é temeridade; crer é piedade; conhecer será um dia nossa eterna felicidade".
Dante Alighieri, depois de ter criado com a riqueza de sua fantasia as mais esplêndidas imagens para descrever o Reino dos bem-aventurados, na terceira parte de sua "Divina Comédia", quando chega à contemplação poética da Santíssima Trindade, tem vôos simplesmente sublimes, como o deste terceto: "O luz que vives de teu próprio ardor, - que em ti te sentes e és por ti sentida, - que em ti, e só por ti, és graça e amor". Mesmo esse inigualável poeta não consegue ir muito adiante. E acaba depondo a pena e exclamando: "Da fantasia a força me fugiu".
O bom é exclamarmos com São Pauto: "O abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! " (Rm. 11,33). Senhor, nós te adoramos!
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