quarta-feira, 25 de março de 2015

MUDANÇA DE ESTILO DE VIDA

"Estou mais tranquila porque ontem ele já não bebeu. Eu pude dormir a noite toda e hoje de manhã eu já estou mais recuperada." (Nara - esposa)

A codependência é expressa, também, por meio de outras características como mudança no estilo de vida e o consequente aparecimento de respostas físicas e emocionais, destacando-se: cefaleias, alteração de pressão arterial, alteração nos valores glicêmicos, insônia, alterações de sono, ansiedade, nervosismo, choro fácil, cansaço físico e mental, distúrbios alimentares. Foram relatados, também, comportamento letárgico, deprimido e pensamento suicida, notadamente em alguns participantes no início das atividades grupais.

Os sintomas ou respostas físicas e emocionais identificados interferem na qualidade de vida do familiar e alteram suas condições de saúde, levando-o a buscar ajuda médica e a consequente medicação com uso indiscriminado de ansiolíticos e antidepressivos, provocando, muitas vezes, mais uma dependência química.

O codependente somatiza sua dor emocional traduzindo-a em queixas e respostas somatoformes. Os sintomas e doenças psicossomáticas, na visão psicanalítica, são achados que estabelecem correlações com ansiedade, conflito e defesas.

Com suporte nessa afirmação, podemos dizer que os sentimentos experimentados pelo codependente, muitas vezes não expressos adequadamente, têm sua expressividade em sintomas físicos e/ou emocionais, como observado nos participantes do grupo estudado.

Em sua grande preocupação com o outro e na impotência para efetivamente ajudá-lo, o codependente tenta formas aparentemente inadequadas de se comunicar com o dependente químico, seja tentando controlar e impor sua vontade e verdade, seja simplesmente adoecendo, e assim as relações familiares vão cada vez mais se enfraquecendo.

Observamos nos participantes reações diversas de adaptações físicas, comportamentais e emocionais ocorridas em razão do estresse causado pela condição de dependência química do familiar em tratamento, e o estresse desencadeia reações de adaptação físico-bioquímicas e quanto ao comportamento do organismo. Essas reações vão desde adaptações para um estado de alerta (comportamento do organismo) e alterações adaptativas do tônus cardiovascular, respiração, glicose e alimentação do sistema nervoso central e outros locais do corpo estressado. No codependente, essas alterações adaptativas podem levá-lo a um estado de alerta ou com sinais orgânicos mais acentuados por todo o corpo estressado.

A mudança no estilo de vida também foi observada no comportamento dos participantes do grupo quando, por inúmeras vezes, verbalizam a alteração no comportamento pessoal, como supervisionar/vigiar o dependente químico, passando a evitar deixá-lo sozinho em grande parte do dia. Dizemos parte dos passos porque alguns dependentes químicos, conscientes ou não de sua necessidade de apoio e tratamento, não querem ou não conseguem deixar de consumir as drogas e ficam arranjando sempre uma forma de fugir, esconder-se e buscar situações que lhe permitam o uso, burlando a vigilância e o controle familiar.

Esse comportamento do familiar e do usuário de drogas enseja uma condição de instabilidade emocional no codependente e a eclosão de vários sentimentos, normalmente negativos e prejudiciais a si e ao outro, destacando-se a ansiedade. A ansiedade caracteriza-se por uma vaga sensação de que algo desagradável pode acontecer, decorrendo de uma situação conflituosa que pode estar total ou parcialmente inconsciente.

Tais conflitos podem ocorrer entre sujeito e sociedade ou mesmo entre partes da personalidade, como conflitos internos, em geral inconscientes, e gerados ao longo do desenvolvimento pela assimilação das experiências de vida. Esses são nossos conflitos internos e podemos ressaltar que os externos são mais patogênicos quanto mais intensificam os conflitos do nosso mundo interno. Dessa forma, situações emocionalmente significativas e não resolvidas de um mundo internalizado podem ser estimuladas por situações atuais.

Ansiedade, insegurança, comportamento obsessivo-compulsivo e medo podem estar entre os fatores influentes na reincidência de sintomas que caracterizam a mudança no estilo de vida experimentado pelo codependente. Essas mudanças no estilo de vida demonstram os últimos estádios da codependência, em que o indivíduo pode se isolar e/ou se afastar do dependente químico, negligenciando-o, independentemente do parentesco, ou eximindo-se de outras responsabilidades, perdendo, também, a esperança na recuperação ou na possibilidade de alterar as relações. Em resposta a isso, pode começar a planejar o afastamento do relacionamento ao qual o codependente se sente aprisionado.

Com relação a planejar o afastamento da relação, identificamos, nos discursos dos participantes, a sensação de cansaço por se encontrarem naquela situação de vida, sendo acompanhada do sentimento de perda de esperanças relacionado à dependência química:

"Então, hoje eu penso assim: hoje eu estou me preparando até para que realmente se acontecer alguma coisa com o meu filho, ele escolheu. Não fui eu. Ele escolheu! Eu coloco tudo isso na minha cabeça: eu não sou culpada pelo que acontecer com ele e eu quero viver bem, continuar dormindo. Ser firme com ele ao ponto de mandá-lo escolher a vida que ele quer levar. Agora eu não sei como vou fazer isso porque, infelizmente, ainda está assim muito confuso na minha cabeça." (Sandra - mãe)

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