terça-feira, 23 de agosto de 2011

O CELIBATO


O problema do celibato não está na impossibilidade de se cumprir essa disposição. Algumas pessoas, por sua própria natureza, por alguma forte decepção amorosa, por seu individualismo exacerbado, por medo do casamento, por motivos místicos, por seu entusiasmo incontido e permanente pelo Reino de Deus são capazes de abrir mão do casamento sem grandes dificuldades. E, no caso de conhecerem e darem importância às normas que regem a sexualidade humana, são capazes também de permanecer na castidade. Toda via, cessada a motivação, pela superação do problema ou por não haver mais razão para manter o celibato, a pessoa está livre para casar-se, se assim o desejar.
No caso do celibato clerical, a questão reside na obrigatoriedade do voto. Uma opção feita aos 24 ou 25 anos que se estendo por toda a vida, mesmo que no momento da opção não se pode ter toda a vida diante de si. Assim em alguns casos (não na maioria deles) o celibato continua, mas sem a castidade. Ora, a castidade não é muito mais importante que o celibato (Cf 1Co 7.8-9).
Ao mesmo tempo, não se pode exagerar a proteção do matrimônio, nem mesmo reduzi-lo a um remédio para a incontinência. Mesmo porque, a sexualidade humana pouco se parece com a figura de uma represa que precisa de descargas periódicas. O Matrimônio deve ser muito mais que a legitimação do exercício sexual. Ele implica em unidade, reciprocidade, fidelidade, doação numa palavra amor. Não seria de surpreender que muitos problemas referentes a continência celibatária, se façam presentes na vida conjugal.
O casamento, apesar de não ser uma pílula que resolve todos os problemas, é o caminho que nos ensina a própria natureza, onde se coadunam as tendências dos dois sexos nos aspectos mais fundamentais da pessoa humana, no instinto sexual da procriação e no amor. Mesmos a Bíblia desaprova a solidão e afirma necessidade da união conjugal (Cf Gn 2, 18; 2, 24).
Seria o celibato obrigatório um fardo desnecessário e perigoso? Ou mesmo: que sentido pode ter o celibato na cultura de hoje? Estas questões podem parecer impertinente; mas são fundamentais. Certamente, os homens de nosso tempo requerem uma explicação coerente à atualizada sobre este tema, pois o celibato é visto no mundo contemporâneo, mais do que em nenhuma época, como uma contradição ao ideal da realização humana.
Vivemos a pós-pós-modernidade, emerge uma nova concepção da pessoa humana. Superadas as visões secionadas de homem, procuramos ver a pessoa humana como uma tríplice unidade entre corpo, psique e espírito. Este novo homem procura o equilíbrio e não mais a valorização do espírito em detrimento do corpo. Cremos que cada pessoa deva viver a plenitude da sua contingência na complementaridade entre homem e mulher.
No entanto a Igreja Católica continua apontado-o como caminho "mais excelente". Muitos jovens, homens e mulheres, plenos de vida, continuam optando pelo celibato, mesmo contra toda razão e toda a "psicologia" da sociedade. Sem a menor dúvida, há nisto algo que nos desnorteia, a nós que vivemos numa época em que os jovens reivindicam a liberdade do amor.
O celibato é uma vocação e um ministério. Se toda a forma de vida humana tende a se maximizar, o celibato é particularmente a vocação da maximização escatológica, ministério da espera e da preparação da Parusia. Se o matrimônio representa o reino e profetiza a unidade do masculino e do feminino, o celibatário profetiza o Senhor que vem. O celibatário, que orienta toda a sua existência para o "OUTRO", testemunha que em seu interior já vive no horizonte parusíaco. A vocação celibatária não consiste numa incapacidade, mas na sede ardente de um amor incondicional sem preferências e sem exclusões.
Toda a liberdade precisa ser conquistada. Com o celibato não poderia ser diferente.

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