segunda-feira, 19 de setembro de 2011

RELACIONAMENTOS SOFRIDOS


O marido que cerceia o crescimento profissional da mulher. A mãe que faz o impossível para o filho não sair de casa. A namorada que exige do parceiro 24 horas de dedicação incontestável e absoluta. A esposa que prefere deixar o marido alcoólatra beber em casa a ir ao bar. O avô que paga ao traficante as dívidas do neto. São exemplos clássicos, de como a co-dependência (depender da dependência do outro em relação a si mesmo) está tão profundamente enraizada no convívio social e familiar. É uma via de mão dupla, em que, no final das contas, as partes dependem umas das outras. A mulher "podada" pelo marido controlador necessita dessa figura para se sentir protegida: ela é sua dependente, e o marido também precisa dela e alimenta essa dependência. 

Da mesma maneira que um dependente desenvolve uma ligação com a droga que não consegue controlar, o co-dependente estabelece uma relação de sujeição com o outro que não consegue controlar. 

Rita 54 anos, enquadra-se perfeitamente no perfil da co-dependencia. Filha de pai alcoólatra, toda sua vida foi cercada de relações de co-dependência, em maior ou menor grau. "Tentava controlar o ambiente para o meu pai não beber e minha mãe não chorar. Não tinha vida própria." Já adulta, Rita passou, inconscientemente, a absorver o único modelo de relacionamento que conhecia: envolveu-se com alcoólatras e com homens emocionalmente indisponíveis. "Hoje sei que, como sempre tive de correr atrás do meu pai para ele gostar de mim, passei a fazer o mesmo com meus parceiros", diz Rita. 

Há dez anos, Rita começou a participar de grupos de auto-ajuda a familiares de dependentes e descobriu que fazia apenas a vontade do outro. "O co-dependente é assim. Vive em prol do outro. Hoje já começo a saber do que eu gosto. Se estou curada? Se bobear, eu me pego ainda fazendo o trabalho dos outros e colocando os amigos em primeiro lugar. Sou perigosa para mim." 

"Eu quis viver a vida do outro, esquecendo da minha própria. Sempre fui co-dependente em todos os meus relacionamentos. Essa doença não permite que sejamos nós mesmas", conta Rita. Inconscientemente, o co-dependente se transforma em vítima, dizendo "sou coitado, mas veja como sou forte e o que eu tenho de suportar". É um heroísmo e uma necessidade dolorida de ajudar os outros. 

A co-dependência é uma doença crônica (assim como diabetes e hipertensão). Exige contínua vigilância. São nos grupos de auto-ajuda, como o Amor Exigente, que os freqüentadores se descobrem controladores compulsivos e percebem que o que procuram são relacionamentos sofridos.

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