sábado, 10 de setembro de 2011

DESAPEGO

Certa vez, o padre perguntou a um discípulo o que o estava aborrecendo. “Minha pobreza” – foi a resposta. –“Minha condição é tão miserável que mal consigo estudar e rezar.” –“Nos tempos que correm” – disse o padre –, a oração mais elevada e o estudo mais primoroso consistem em aceitar a vida exatamente como a encontramos.

É muito útil tornar-nos desapegados a respeito de todas as coisas criadas em tudo aquilo que depende da escolha do nosso livre-arbítrio, e não lhe é proibido. E tal maneira que, de nossa parte, é possível não querermos mais saúde que doença, riqueza que pobreza, honra que desonra, vida longa que breve, e assim por diante em tudo o mais. Quem vive com este desejo é um Santo mesmo. A idéia é muito dura e difícil, porém é possível.
Examinemos mais profundamente essa admirável doutrina.
É necessário fazer-nos desapegados. Naturalmente, temos problemas nesta escolha porque a natureza nos inclina àquilo de que mais gostamos e é conforme às nossas paixões.
Devemos, pois, fazer-nos desapegados; trabalhar muito e forçar-nos a conseguir essa disposição de nossa vontade. Esse desapego não é apatia ou falta de sensibilidade. É uma disposição de vontade deliberada e determinada a agir unicamente com a vista de nossa salvação e para promover a maior glória de Deus. Podemos estar indiferentes com toda a repugnância e rebelião de nossa natureza, pois uma coisa é a indiferença da vontade, outra a indiferença da sensibilidade.

É necessário fazer-nos indiferentes porque, se todas as criaturas são meios, não há razão para nos inclinarmos mais a uma que a outra. Além disso, todas as criaturas são por si indiferentes, e podem ajudar-nos ou impedir-nos a consecução da salvação.
Não devemos, por conseguinte, amar as criaturas por si mesmas, mas só enquanto nos servem de meio à santificação e para poder salvar-nos. É impossível, porém, santificar-nos nesta vida sem muito sacrifício, sem estar desapegados com relação a todos as criaturas, ainda àqueles que mais repugnam à nossa natureza.

A realidade presente não pode realmente ser rejeitada ou aceita. Fugir dela é como fugir dos próprios pés. Aceitá-la é como beijas os próprios lábios. Tudo o que se precisa fazer é ver, entender e ficar sossegado.

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